Seja bem vindo (a)!

Sejam bem-vindos (as)! Vamos criar interrogações, incentivar a leitura, instigar o pensar, espalhar sementes...

sábado, 24 de dezembro de 2011

Feliz Natal! Feliz Ano Novo!

“Ó Deus, / (...) / Somos humanos, / nossos verbos têm tempos, / não são como o Vosso, / eterno. (Adélia Prado)

                                                                                            Olá!

       Véspera de Natal... Desejo a todos e todas que acompanham o Mire e Veja Travessia, um feliz e santo natal e um ano novo de grandes conquistas e alegrias.  
      Que o mundo viva mais intensamente os ensinamentos de Jesus e que cada um deixe um cantinho bem aconchegante no seu coração para que Ele seja bem recebido nesse natal. Que possamos fazer aquilo que foi sugerido a Nicodemos: “Nascer de novo”. Nascer para a paz, a justiça, a solidariedade, a ética; para a partilha, para o amor e para a VIDA.
       Deixo para todos (as), como um singelo presente, um texto de Frei Betto, bem poético e com significaticas metáforas, que me toca profundamente. Espero que vocês gostem. Obrigada a todos (as) que, de alguma forma, prestigiaram e enriqueceram esse espaço em 2011. Para mim foi muito bom passar mais um ano em companhia de todos (as). Sintam-se sempre muito (a) bem-vindo (a) ao Mire e Veja Travessia! Beijos fraternos e carinhosos.


Natal, singelos propósitos! – Por Frei Betto

        Neste Natal, guardarei em caixas bem fechadas o que me transmuta naquele que não sou: a inveja, o ciúme, a sede de vingança e todos os ressentimentos que me corroem as vísceras. Lacradas as caixas, atirarei todas nas profundezas do mar do olvido.
        Neste Natal, esvaziarei o escaninho de minhas torpes intenções; as gavetas de tantas vãs ilusões; os armários de compulsivas ambições. De pés descalços, trilharei a senda saudável de uma existência modesta, por vezes solitária, sempre solidária.
        Não darei ouvidos ao crocitar dos corvos em minhas janelas, nem ficarei indiferente às aquarelas pinceladas pela dor alheia e manterei vedada a chaminé à entrada consumista de Papai Noel.
          Tecerei, com as agulhas do acalanto e os fios invisíveis do mistério, o tapete promissor dos sonhos que me fomentam o entusiasmo. Recolherei as bandeiras da altivez militante e, numa caneca de barro, derramarei singelos propósitos: refrear a língua de maldizer outrem; reconhecer as próprias fraquezas; exercer a difícil arte de perdoar. Sorverei de um só gole até inebriar-me de compaixão.
        Armarei, na varanda de casa, uma árvore de Natal cujo tronco será da mesma madeira que os princípios que me norteiam os passos; os galhos, as sedutoras vias às quais ousei dizer não; as flores, a paz colhida ao enclausurar-me no silêncio interior; os frutos, essa esperança-lagarta que insiste em metamorfosear-se em utopia sobrevoando o pessimismo que me assalta.
        Aos pés de minha árvore deixarei vazios os sapatos de minhas erráticas peregrinações ao mundo inconsútil dos apegos que me sonegam o que a vida melhor oferece: a experiência amorosa de transcendê-la. Ao lado, minha lista de pedidos: a leveza imponderável da meditação; o dom de respeitar o limite das palavras; a felicidade de saciar-me na brevidade dos meus dias.
        Neste Natal, montarei no canto da sala o presépio de minhas inquietudes. No lugar de franciscanos animais, a Declaração Universal dos Direitos Humanos; como são José, um árabe fiel ao Corão; Maria, uma jovem judia semelhante à de Nazaré; Jesus, a criança africana carcomida pela fome.
          Tragam os reis magos três oferendas: o ramo de oliveira preso ao bico da pomba que anunciou a Noé o fim do dilúvio; a brisa suave que soprou sobre Elias; o pão repartido na estalagem de Emaús.
         Não celebrarei liturgias solenes em dissonância com o glória cantado pelos anjos do presépio; não me fartarei em ceias pantagruélicas enquanto o Menino se abriga ao relento num cocho; nem darei presentes que me doem no bolso e no coração, embalados em falsos sentimentos.
         Sim, me farei presente lá onde a família de sem-teto, escorraçada de Belém, ocupa um pedaço de terra nas cercanias da cidade para que do ventre de Maria brote a certeza de que a justiça haverá de brilhar como a estrela de Davi.
        Neste Natal, serei todo orações, dançarei ao som das cítaras do reino de Salomão, sairei pelas ruas cantarolando salmos, despirei todos os adereços de neve e, neste país tropical, deixarei que o sol pouse em minha alma.
        Colherei as lágrimas dos desesperados para regar meu jardim de girassóis e arrancarei os impropérios da boca dos irados para revogar a lei do talião. Nos becos da cidade, celebrarei com os bêbados, os mendigos, as prostitutas, a quem tratarei por um único nome: Emanuel. E, num grande circo místico, buscarei com eles a resposta à pergunta que jamais se cala: “O que será que será que cantam os poetas mais delirantes e que não tem governo nem nunca terá?”
        Neste Natal, rogo a Deus ressuscitar a criança escondida em algum recanto de minha memória, a que um dia fui, menino que sabia confiar e, desprovido do pudor do ócio, livre das agruras do tempo, era capaz de imprimir fantasias coloridas ao lado obscuro da vida.
        Quero um Natal de brindes à alegria de viver, hinos à gratidão da fé, odes à inefável magia da amizade. Natal cujo presépio seja o meu próprio coração, no qual o Menino Jesus desfaça laços e faça desabrochar todo o amor que se oculta nos sombrios porões do meu ego.

*Frei Betto é escritor, autor de A arte de semear estrelas (Rocco) entre outros livros.
 Correio Brasiliense - 19/12/2008
* grifo meu

sábado, 10 de dezembro de 2011

Nordestinos e Sudestinos

“Não sou nada. / Nunca serei nada. / Não posso querer ser nada. / À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.” (Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa)

         Olá!
        A Revista Carta Capital dessa semana p.p. (nº 675) traz uma reportagem “Especial Nordeste – A nova onda de desenvolvimento regional”. Aponta para os avanços econômicos, sociais, políticos, culturais e  vários outros aspectos da região. Chamou-me a atenção, dentre muitas outras coisas, uma entrevista com o antropólogo, poeta, tradutor e ensaísta baiano, Antônio Risério - A autoestima reconquistada.
        Na entrevista, ao responder sobre como o restante do Brasil vê o Nordeste, ele avalia que há um novo olhar sim, sobre o Nordeste, mas restritos a empresários, políticos, jornalistas cientistas, etc., mas que em plano de massas a mudança ainda é muito pequena. E acrescenta: “A mentalidade sudestina (sim: assim como existem nordestinos, existem sudestinos), de um modo geral, ainda é povoada por velhos estereótipos e preconceitos. Ele aponta como uma das causas do preconceito, a desinformação sobre o que está acontecendo atualmente no Nordeste.
        É fato que o preconceito existe. Muitas vezes, infelizmente, por parte dos próprios nordestinos, que não assumem sua origem e/ou dos seus pais. Costumo “pegar pesado” com a manifestação de preconceito – qualquer tipo de preconceito - seja em sala de aula ou fora dela. Vejo no preconceito, uma atitude de pessoas desinformadas, portanto, ignorantes. E com o advento da internet, em alguns momentos vemos manifestações preconceituosas contra o Nordeste e o povo nordestino que é uma coisa nojenta, grosseira, extremamente doentia. Lamentável! Quero um Brasil como canta o nosso grande Chico Buarque em "PARATODOS": “O meu pai era paulista / meu avô pernambucano / o meu bisavô mineiro / meu tataravô baiano / estou na estrada há muitos anos / sou  artista brasileiro."(...)
        Sabemos que a elevação da autoestima dos nordestinos e de qualquer outros povos e/ou região é fruto da elevação do nível de consciência política da população e da sua participação nas diversas esferas sociais. Na medida em que temos consciência dos nossos direitos (e deveres) e sabemos exercê-los, o nível de autoestima aumenta, pois somos capazes de viver com dignidade, sem submetermos à dominação do coronelismo e/ou qualquer outro grupo (pré) dominante.
        Inevitável a lembrança de que no próximo ano haverá eleição para prefeitos/as e vereadores/as.  É muito importante que os nordestinos e brasileiros em geral não deixem  retroceder as conquistas feitas - inclusive minha terra natal, a Bahia -, mas que saibam reconhecer e prosseguir a luta pelo progresso, justiça, igualdade social. E os sudestinos (gostei dessa nova expressão) e brasileiros em geral que precisam conquistar ou reconquistar sua autoestima – inclusive minha terra de morada, São Paulo – tenham a sabedoria de escolher melhor os seus representantes.  A decisão tomada numa eleição determina que tipo de vida queremos para a comunidade em que vivemos.

*****

Em tempo: Amanhã acontece o plebiscito sobre a divisão do estado do Pará. Não à divisão! Chega de separatistas; seja no Pará, seja no Rio Grande Sul, seja em São Paulo, onde o movimento separatista é camuflado...

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Dia D

“Podei a roseira no momento certo / e viajei muitos dias, / aprendendo de vez / que se deve esperar biblicamente / pela hora das coisas." (Adélia Prado, escritora brasileira)

        Olá!
        Mesmo com dez dias de atraso não posso deixar de registrar aqui o fato de termos agora, no Brasil, o dia D. Vai que algum leitor do Mire e Veja Travessia não acompanhou na mídia convencional...
      Nada do dia D da 2ª guerra mundial.  Nem do dia D comemorado na Irlanda, quando não só os irlandeses, mas gente de todo os cantos festejam o escritor James Joyce, anualmente, em 16 de junho, com o Bloomsday.
No Brasil, o dia 31 de outubro será o nosso dia D. Trata-se de uma data criada pelo Instituto Moreira Salles, uma fundação que tem por finalidade a promoção e o desenvolvimento de programas culturais, para homenagear o nosso ilustre poeta Carlos Drummond de Andrade (vide auto-caricatura). Segundo o Instituto, é “um outro dia D, para apagar a guerra e saudar a liberdade, a imaginação, a aliança entre os homens  de boa palavra”. 
A iniciativa foi aplaudida por todos nós que amamos Drummond e várias instituições brasileiras como universidades, escolas diversas, bibliotecas, museus, clubes, etc., onde, a exemplo desse ano, vários eventos foram realizados, como saraus, exibição de filmes, mesas redondas, publicações diversas. Afinal, quem não conhece e gosta dos poemas “José”, “Poema de sete faces”, “No meio do caminho”, “Sentimento do mundo”, “Caso do vestido”, “Quadrilha” e o lindo poema “Mãos dadas”? (Só para citar alguns mais conhecidos...)
Encontro-me em licença prêmio e não pude, nesse ano, comemorar a data com meus alunos e alunas. Acompanhei pelos jornais. Mas só de pensar, vem mil ideias à cabeça. Imagine então em 2012 quando completa os 110 anos de nascimento de Carlos Drummond de Andrade e os 25 de sua morte. Sabe-se que (depois de 27 anos tendo seus livros publicados pela Record), a Companhia das Letras começa a reeditar toda a obra do escritor, com novo projeto gráfico e conselho editorial próprio. Drummond também será homenageado em Paraty, já que será o tema da Flip (Feira Literária de Paraty- RJ) do próximo ano.

Ele merece!!!

Ia terminar essas palavras com um poema de Drummond. Mas resolvi mostrar uns versinhos que fiz sobre as “minhas” comemorações de outubro. Quando soube do dia D pensei: O mês de outubro é “meu mês”.
Ps: Espero que meus ilustres leitores não se decepcionem com os humildes versos e que Drummond não se revire no túmulo por troca tão desigual.
Vamos lá?





Meu Mês
Outubro vem
trazendo as flores  de setembro,
Da primavera,

com “São Francisco  pelo caminho
De pé descalço
Tão pobrezinho”.

E Nossa Senhora Aparecida traz esperança
Vem abençoar o Brasil
Junto com as crianças.

Os professores chegam
Para lutar; e comemorar
O seu papel de iluminar.

 São Lucas vem em seguida
Abençoar os médicos
E proteger a vida.

Chega também
o aniversário do meu marido
E de amigos especiais e queridos.

Vem o dia de quem trabalha para o povo
e dele recebe o seu salário:
O funcionário público que deve honrar o seu trabalho.

No mesmo dia São Judas Tadeu
Apóstolo de Jesus
Nas grandes necessidades, nos mostra a sua luz.

Num feliz dia de outubro
Do meu ventre uma criança nasce;
Linda! Abençoada! Mostra-me, de Deus, a sua face.

Para completar o meu mês de festas
Criou-se o dia de Drummond,
O meu poeta “gauche”.

E agora, para fechar:
- Saiam bruxas americanas!
Deixam o Saci entrar.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Mensagem da Criança

“A educação infantil é tudo; o resto, quase nada..." (Celso Antunes, escritor e educador)

 Olá!
Falando em criança, educação infantil, como mãe tive experiências e vi experiências de outras mães...  As escolas, com algumas exceções, apregoam e praticam uma educação em que excesso de tarefas é sinal de qualidade e pensar no “futuro” é bandeira maior. Os vestibulares, o mercado de trabalho, a competição, já fazem parte do discurso nessas escolas desde muito cedo. Quase sempre tratam as crianças como “pequenos” adultos; os ambientes incentivam o consumismo, pensam e pregam somente o futuro e esquecem que as crianças, como qualquer ser humano, precisam e devem viver o presente; pouco entendem de criança. O pior: os pais, quase sempre, concordam e avaliam a qualidade de ensino de uma escola por esse ângulo.  
 Para quem gosta e/ou educa crianças, deixo aqui uma linda mensagem.



Mensagem da Criança

Dizes que sou o futuro:
Não me desampares no presente.

Dizes que sou a esperança da paz:
Não me induzas à guerra.

Não desejo tão só a festa do teu carinho:
Suplico-te que com amor me eduques.

Não te rogo apenas brinquedos:
Peço-te bons exemplos, boas palavras.

Ensina-me o trabalho e a bondade, 
a honestidade e o perdão.

Orienta-me para o caminho da justiça.

Corrige-me enquanto é tempo,
mesmo que eu sofra...

Ajuda-me hoje, para que amanhã 
eu não te faça chorar...

Fonte: Edições Paulinas (gratuidade 09)

 ***

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Crônica

“Aprendi com as primaveras a me deixar cortar para poder voltar inteira” (Cecília Meireiles)
Larissa Lima Meira

Meu ideal seria escrever...
Rubem Braga

Meu ideal seria escrever uma história tão engraçada que aquela moça que está doente naquela casa cinzenta quando lesse minha história no jornal risse, risse tanto que chegasse a chorar e dissesse - "ai meu Deus, que história mais engraçada!". E então a contasse para a cozinheira e telefonasse para duas ou três amigas para contar a história; e todos a quem ela contasse rissem muito e ficassem alegremente espantados de vê-la tão alegre. Ah, que minha história fosse como um raio de sol, irresistivelmente louro, quente, vivo, em sua vida de moça reclusa, enlutada, doente. Que ela mesma ficasse admirada ouvindo o próprio riso, e depois repetisse para si própria - "mas essa história é mesmo muito engraçada!".

Que um casal que estivesse em casa mal-humorado, o marido bastante aborrecido com a mulher, a mulher bastante irritada com o marido, que esse casal também fosse atingido pela minha história. O marido a leria e começaria a rir, o que aumentaria a irritação da mulher. Mas depois que esta, apesar de sua má vontade, tomasse conhecimento da história, ela também risse muito, e ficassem os dois rindo sem poder olhar um para o outro sem rir mais; e que um, ouvindo aquele riso do outro, se lembrasse do alegre tempo de namoro, e reencontrassem os dois a alegria perdida de estarem juntos.

Que nas cadeias, nos hospitais, em todas as salas de espera a minha história chegasse - e tão fascinante de graça, tão irresistível, tão colorida e tão pura que todos limpassem seu coração com lágrimas de alegria; que o comissário do distrito, depois de ler minha história, mandasse soltar aqueles bêbados e também aqueles pobres mulheres colhidas na calçada e lhes dissesse - "por favor, se comportem, que diabo! Eu não gosto de prender ninguém!" . E que assim todos tratassem melhor seus empregados, seus dependentes e seus semelhantes em alegre e espontânea homenagem à minha história.

E que ela aos poucos se espalhasse pelo mundo e fosse contada de mil maneiras, e fosse atribuída a um persa, na Nigéria, a um australiano, em Dublin, a um japonês, em Chicago - mas que em todas as línguas ela guardasse a sua frescura, a sua pureza, o seu encanto surpreendente; e que no fundo de uma aldeia da China, um chinês muito pobre, muito sábio e muito velho dissesse: "Nunca ouvi uma história assim tão engraçada e tão boa em toda a minha vida; valeu a pena ter vivido até hoje para ouvi-la; essa história não pode ter sido inventada por nenhum homem, foi com certeza algum anjo tagarela que a contou aos ouvidos de um santo que dormia, e que ele pensou que já estivesse morto; sim, deve ser uma história do céu que se filtrou por acaso até nosso conhecimento; é divina".

E quando todos me perguntassem - "mas de onde é que você tirou essa história?" - eu responderia que ela não é minha, que eu a ouvi por acaso na rua, de um desconhecido que a contava a outro desconhecido, e que por sinal começara a contar assim: "Ontem ouvi um sujeito contar uma história...".

E eu esconderia completamente a humilde verdade: que eu inventei toda a minha história em um só segundo, quando pensei na tristeza daquela moça que está doente, que sempre está doente e sempre está de luto e sozinha naquela pequena casa cinzenta de meu bairro.

Texto: Rubem Braga, “A traição das elegantes”, Editora Sabiá – Rio de Janeiro, 1967. Foto de ilustração: Larissa Lima Meira, ex-aluna e estudante de jornalismo.

sábado, 10 de setembro de 2011

Poema

“Porque quem ama nunca sabe o que ama / Nem sabe por que ama, nem o que é amar..." (Fernando Pessoa)

Muitos alunos(as) e outras pessoas já me disseram que passaram a gostar de poesias a partir do contato com elas aqui no blog ou mesmo em sala de aula. Hoje deixo  no Mire e Veja Travessia uma bonita poesia de Fernando Pessoa... Afinal, quem nunca escreveu uma carta de amor?

CARTAS DE AMOR...

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)


Álvaro de Campos, 21/10/1935 (heterônimo de Fernando Pessoa)



terça-feira, 30 de agosto de 2011

Pequena Reflexão sobre Educação

“Não busco discípulos para comunicar-lhes saberes. Os saberes estão soltos por aí, para quem quiser. Busco discípulos para neles plantar minhas esperanças” (Rubem Alves)

Olá!
Como já disse aqui no Mire e Veja Travessia, gosto muito de passar na “casa do Rubem Alves”. Concordo com os pensamentos (ou seria os sonhos?) dele e me abasteço com leituras sempre enriquecedoras. De lá trouxe esse pequeno texto para nossa reflexão...

 ***                                                         * * *                                                                                                  
 “O estudo da gramática não faz poetas. O estudo da harmonia não faz compositores. O estudo da psicologia não faz pessoas equilibradas. O estudo das "ciências da educação" não faz educadores. Educadores não podem ser produzidos. Educadores nascem. O que se pode fazer é ajudá-los a nascer. Para isso eu falo e escrevo: para que eles tenham coragem de nascer. Quero educar os educadores. E isso me dá grande prazer porque não existe coisa mais importante que educar. Pela educação o indivíduo se torna mais apto para viver: aprende a pensar e a resolver os problemas práticos da vida. Pela educação ele se torna mais sensível e mais rico interiormente, o que faz dele uma pessoa mais bonita, mais feliz e mais capaz de conviver com os outros. A maioria dos problemas da sociedade se resolveria se os indivíduos tivessem aprendido a pensar. Por não saber pensar tomamos as decisões políticas que não deveríamos tomar. Se você desejar saber com detalhes o que penso sobre a educação, leia os livros que se encontram na sala Biblioteca. Nas minhas conversas com educadores meus temas favoritos são: A alegria de ensinar, A educação dos sentidos, O prazer de ler, A arte de pensar, O educador como sedutor, O educador como feiticeiro, O educador como artista, O educador como cozinheiro, As leis do pensar criativo, Anatomia do pensamento: informação, razão, inteligência, conhecimento, alegria, Aprendendo a desaprender, Entre a ciência e sabedoria: o dilema da educação, Educação e política, Educação e Vida, Aprendizagem e prazer.”
(www.rubemalves.com.br/quartodebadulaques)

*Grifo meu.

sábado, 6 de agosto de 2011

Poema: "SE"

“A poesia purifica a alma / E um belo poema sempre leva a Deus!” (Mário Quintana, poeta brasileiro)

 
         Hoje deixo no Mire e Veja Travessia o belo poema “SE”,  do documentário “Deus me Livre de Ser Normal", do professor Hermógenes*(foto). Um poema que traz reflexões profundas, com palavras transformadoras, de um sábio mestre e poeta. Seus livros têm sido fonte de luz para muitas pessoas e  fonte de pesquisas para vários cientistas brasileiros e também estrangeiros.    




 SE

Se, ao final dessa existência,
Alguma ansiedade me restar
E conseguir me perturbar;
Se eu me debater aflito
No conflito, na discórdia...

Se ainda ocultar verdades
Para ocultar-me,
Para ofuscar-me com fantasias por mim criadas...

Se restar abatimento e revolta
Pelo que não consegui
Possuir, fazer, dizer e mesmo ser...

Se eu tiver um pouco mais
Do pouco que é necessário
E persistir indiferente ao grande pranto do mundo...

Se algum ressentimento,
Algum ferimento
Impedir-me do imenso alívio
Que é o irrestritamente perdoar,

E, mais ainda,
Se ainda não souber sinceramente orar
Por quem me agrediu e injustiçou...

Se continuar mediocremente
Denunciar o cisco no olho do outro
Sem conseguir vencer a treva e a trave
Em meu próprio...

Se seguir protestando
Reclamando, contestando,
Exigindo que o mundo mude
Sem qualquer esforço para mudar eu...

Se, indigente da incondicional alegria interior,
Em queixas, ais e lamúrias,
Persistir e buscar consolo, conforto e simpatia
Para a minha ainda imperiosa angústia...

Se, ainda incapaz
Para a beatitude das almas santas,
Precisar dos prazeres medíocres que o mundo vende...

Se insistir ainda que o mundo silencie
Para que possa embeber-me de silêncio,
Sem saber realizá-lo em mim...

Se minha fortaleza e segurança
São ainda construídas com os materiais
Grosseiro e frágeis
Que o mundo empresta,
E eu neles ainda acredito...

Se imprudente e cegamente,
Continuar desejando
Adquirir,
Multiplicar,
E reter
Valores, coisas, pessoas, posições, ideologias,
Na ânsia de ser feliz...

Se, ainda presa do grande embuste,
Insistir e persistir iludido
Com a importância que me dou...

Se, ao fim dos meus dias,
Continuar
Sem escutar, sem entender, sem atender,
Sem realizar o Cristo, que,
Dentro de mim,
Eu Sou,
Terei me perdido na multidão abortada
Dos perdulários dos divinos talentos,
Os talentos que a Vida
A todos confia,
E serei um fraco a mais,
Um traidor da própria vida,
Da Vida que investe em mim,
Que de mim espera
E que se vê frustrada
Diante do meu fim.

Se tudo isso acontecer
Terei parasitado a Vida
E inutilmente ocupado
O tempo
E o espaço
De Deus.
Terei meramente sido vencido
Pelo fim,
Sem ter atingido a Meta.







*Professor Hermógenes: Filósofo, poeta, escritor (com mais de 30 livros publicados) e terapeuta. É considerado o pioneiro na medicina holística no Brasil e autor de "Autoperfeição com Hatha Yoga".
www.profhermogenes.com.br


*Grifo meu.






domingo, 24 de julho de 2011

Discurso de Formatura

“Se as coisas são inatingíveis... ora! / Não é motivo para não querer-las... / Que tristes os caminhos, se não fora / A mágica presença das estrelas! (Mário Quintana: “Das Utopias”)

Olá!
Sempre que vou a alguma festa de formação dos meus alunos fico observando os discursos. Que ideia passam? Que visão de mundo expressam? Que tipo de caminhada tiveram? O que encontrei hoje no meu "quarto de badulaques", com muito carinho compartilho com vocês,  no Mire e Veja Travessia: o meu discurso de formação do curso de Magistério, espécie uma de “curso técnico” para quem queria seguir a carreira de professor/a , que corresponde ao atual Ensino Médio, hoje. Ou seja, quando escrevi essas palavras, tinha, mais ou menos, a idade dos meus alunos e alunas. A realidade era outra, claro, completamente diferente. Mas, ao ler, constatei que, apesar do tempo e das adversidades, eu não mudaria nada em seu conteúdo, ou seja, apesar de, na prática e na realidade de hoje, ser bem difícil, continuo com os mesmos compromissos, os mesmos sonhos, as mesmas utopias...
Bjos. 


"Exmº senhor José Antônio de Carneiro, prefeito de Paratinga, DD representante do DR. Jonival Lucas, paraninfo da nossa turma; Edson Ribeiro, paraninfo de honra; Dr. José dos Santos Sodré e D. Eliana, queridos padrinhos dos formandos; professora Alexandrina Mirian Ribeiro Campos, patrona da turma; Exmº Dr. Antônio Rodrigues Barbosa; professora Alzira Ribeiro do Espírito Santo, madrinha do anel; Exmº Revmº padre João Cristiano Appelboom; meus senhores, minhas senhoras:
        Hoje é um dia de grande alegria para nós, formandos. Depois de muitas lutas, grandes experiências e muitos esforços, estamos aqui, junto com vocês, comemorando e compartilhando a nossa alegria por receber os nossos diplomas, símbolos da formação e capacidade que adquirimos.
        Com isso, assumimos uma missão nada fácil, mas muito sublime e importante, pois ser professor não é apenas transmitir conhecimentos, mas formar pessoas dignas e responsáveis, capazes de assumir o seu papel perante Deus e a sociedade. Pessoas que têm liberdade e capacidade de optar pelo bem e pelo desenvolvimento adequado a uma sociedade. 
        É grande a nossa responsabilidade como professores, nesse pedaço de chão baiano e nesse Brasil. Há um grande trabalho a fazer e não podemos nos omitir limitando o ensino à simples transmissão de conhecimentos, mas levar o aluno, dentro da educação recebida, a “fincar o pé”, assumir e fazer a sua história. Estamos certos de que o caminho que escolhemos não é fácil, mas compensador. Por meio da nossa profissão, podemos levar a paz, a alegria, o amor, o conhecimento a muitas pessoas, expressão da responsabilidade do compromisso que ora assumimos.
        Caros colegas: se concluímos o nosso curso, não foi por mera capacidade nossa. Muitas  pessoas nos ajudaram a “subir os degraus” que nos conduziram até aqui. O exemplo, o interesse e a dedicação do professorado do Colégio Cenecista Nossa Senhora de Brotas, o esforço dos nossos pais, o incentivo dos nossos amigos, nos deram forças para atingir a nossa meta. Por meio dos nossos pais, professores e amigos, Deus mostrou a sua ternura e fidelidade para nós, levando-nos a enfrentar os obstáculos sem desanimar.
        Talvez eu não tenha condições suficientes para nivelar meus sentimentos ao sentimento de cada um que me honra com esta representação que traduz muito carinho e confiança, estes meus queridos colegas, companheiros de luta, onde o dia a dia vivenciados, nos tornaram irmãos. Por isso hoje, de todo o coração, reproduzo aqui o nosso agradecimento conjunto:
“A Deus, autor da vida, fonte de nossas inspirações, oferecemos nossos recursos para a grandeza do seu reino e promoção da pessoa humana; ao venerando Colégio Cenecista Nossa Senhora de Brotas, jamais poderíamos expressar nossa gratidão; aos nossos pais, que nos legaram a persistência e o desejo de vencer; à pátria, a promessa de honrarmos o título recebido; aos colegas, pelo que aprendemos nessa feliz convivência; aos mestres, nosso carinho, nossa imorredoura gratidão; aos amigos, irmãos, esposos, filhos e namorados, obrigada pela compreensão, pelo estímulo nas horas de desânimos. O mérito da vitória hoje partilhamos.”
        Agradecemos também a presença do ex-diretor do colégio Dr. Antônio Rodrigues Barbosa, cujo nome foi escolhido para homenagear a turma dos formandos deste ano.
        Finalizando, oferecemos a Deus nossos recursos para a grandeza do Seu Reino e para o progresso da nação brasileira.
Obrigada!"

Oradora da turma: Eliran N. de Oliveira
 14 de dezembro de ....                                                                                                                 

Como adquirir

RECADO PARA OS BROTENSES E DEMAIS INTERESSADOS EM ADQUIRIR O LIVRO DE THIERRY:
Como já falei nas “Travessias” desse blog e também no Orkut, imagino que tenha muitos ex-alunos (as) do SEDEC e pessoas das Comunidades dos Municípios de Brotas de Macaúbas, Oliveira dos Brejinhos, Ipupiara, etc. que gostariam de adquirir o livro de autoria de Thierry (Vagabundos, não senhor! Cidadãos brasileiros e planetários)

Para os interessados (as) divulgo aqui no Mire e Veja Travessia, de forma mais completa, os meios de adquirir o livro:
Em SALVADOR: pode ser na livraria LDM (Rua Direita da Piedade) ou na filial da mesma na Faculdade de Educação (FACED) da UFBA no bairro Vale do Canela (lá o preço é de R$ 30,00). Ou direto com o autor. Contato: (071) 3322-5563 (preço de 20,00)
Em BROTAS DE MACAÚBAS: Loja Dina Presentes – Praça Dr. João Borges, 27 – Tel. (77) 3644-2409 (preço de R$ 20,00)
CORREIO: Depósito ou transferência bancária: Bradesco – Agêngia 3583-1 – Conta corrente 187-2 (Em nome de Thierry De Burghgrave) (Preço R$ 20,00 + 5,00 de despesas postais) e mandar comprovante por fax (071) 3322-5563) com endereço completo e legível para envio do livro.
Boa Leitura!

terça-feira, 12 de julho de 2011

Fluxo de Hipocrisia


“É chato chegar a um objetivo num instante / eu quero viver essa metamorfose ambulante” (Raul Seixas, cantor e compositor brasileiro)

                                       Olá!

Nessa postagem, palavras "jovens" de uma jovem que se descobriu poetisa! A nossa querida Izamara, ou simplesmente Iza, que “escondeu” seu talento poético, pelo menos para mim, mais de um ano. Vi esse “aflorar” no seu blog revolucaodeideias.blogspot.com e fiquei felicíssima. Ela sempre se destacou nas redações dissertativas (inclusive com redação postada aqui nesse blog), mas quase sempre se esquivava nos momentos de "poetar". Não adiantou. Hoje podemos ver que essa “futura farmacêutica” se deixou tocar pela beleza da poesia. Nos dois textos abaixo (com eu-lírico masculino) fica evidente que, além do talento poético, Izamara é uma jovem pensante. Percebe as coisas ao seu redor; o ser humano; a sociedade em que vive. E à sua maneira, mostra sua inquietação e indignação de jovem que quer um mundo justo, mais humano e fraterno, onde as pessoas possam descobrir e viver a sua essência e não as aparências.
PS : A Iza é essa da foto. Ela sempre se apresenta aqui no Mire e Veja Travessia e no seu blog  com a foto da Janis Joplin.
Vamos aos poemas!

FLUXO DE HIPOCRISIA

Vejo com o canto dos olhos
Como quem tem medo de expor à verdade

Passo reto, ando, caminho;
Como quem foge de uma realidade
Crua, suja e perversa.

Todos ao redor parecem não importar
Com os homens que adormecem no frio
Com as mulheres providas de força, que se doam a noite
E as crianças despidas de futuro.

E assim me pergunto se estou louco
Ou se o silêncio da sociedade é uma loucura.

 * * * * *


SOCIEDADE ALIENADA

Acordar, trabalhar, jantar, dormir
Sonâmbulo eu vivo a correr
Padrões, regras, deveres a cumprir
Servindo, esqueci de viver.

Para sobreviver restou-me seguir
Aceitar as leis e obedecer
Alienadamente seguindo
Alienadamente cumprindo.

Oh situação alienada!
Será isso que resta para mim?
Oh sociedade culpada!
Por que tu ainda caminhas assim?

Sempre quieta; sempre calada
Nunca questionas e sempre dizes sim?
Onde ficou a tua vontade?
Levanta-te, grita a verdade!

* * * * *

Izamara Ribeiro Santana

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Vagabundos, não senhor!

“O que me surpreende na aplicação de uma educação libertadora é o medo da liberdade” (Paulo Freire)


Olá!
          Hoje falo do lançamento de um livro que tem muito a ver comigo, e com este blog  Mire e Veja Travessia, que tem compromisso com uma educação libertadora, nem sempre muito fácil, na prática, quando se trilha o caminho da educação convencional na qual estou inserida . Trata-se de “Vagabundos, não senhor – Cidadãos brasileiros e planetários!”,  de autoria do meu  amigo, Thierry De Burghgrave.
        Com muita honra e alegria recebi o livro em casa, com uma bonita dedicatória, e ao lê-lo fiz uma “viagem” histórica, prazerosa e enriquecedora, e em vários momentos dispus de muita emoção “vendo”, por onde, de certa forma, já passei. 
       Pode-se constatar que o livro é “um misto de ensaio científico e autobiografia”. Aborda “os caminhos de uma educação libertadora, através da maravilhosa  aventura que foi a implantação e efetivação da Escola Comunidade Rural na região de Brotas de Macaúbas, na Bahia, embora abordando também o trabalho da Pedagogia da Alternância no Brasil e o mundo.”
        Não quero tecer comentários sobre o livro para preservar  a curiosidade e o julgamentos de quem vai ler, uma vez que o mesmo foi lançado há menos de um mês. Registro, porém, que me surpreendi positivamente. Não podia esperar menos quando  se trata de uma pessoa com autoridade para discorrer  sobre esse e outros temas, o que, certamente, foi um ponto decisivo para a qualidade da obra como um todo.
Thierry (foto), Mestre em Ciências da Educação, educador, tradutor de artigos, livros, atualmente é assessor da UNEFAB (União Nacional das Escolas Famílias Agrícolas do Brasil). Um voluntário da cooperação belga que chegou ao Brasil, jovem, cheio de ideias, e abraçou a luta pela educação onde trabalhou , inclusive, divulgando a Pedagogia da Alternância em várias regiões brasileiras , onde se tornou uma pessoa muito querida e admirada. “Sou um brasileiro com sotaque belga”, assim ele se autodenomina.
        Seu livro vem como um presente para todos nós, seus amigos, e todos aqueles que desejam ter um melhor conhecimento sobre o autor, e temas relacionados a Educação Libertadora, Pedagogia da Alternância, Educação no Campo, Conflitos de Terra, “ Fundo de Pasto”, Fundação da ECR em Brotas de Macaúbas, dentre outros. Trata-se, portando, de um livro direcionado a um público, de certo modo, mais específico, que eu espero, tenha acesso e leia o livro.
        Concluo parafraseando (quase copiando) Dom Luiz Cappio, no prefácio do livro: Obrigada, por esta viagem no tempo. Obrigada, por este alimento de testemunho de lutas, conquistas, por  acreditar que “um novo mundo é possível” desde que se dê a vida, com inteligência, criatividade, mas com muito amor e compromisso com os menos favorecidos, que são os prediletos de Jesus e que, por consequência, devem ser o nosso também. Obrigada por nos confirmar que sem grandes ideais e sem esperança não se alcança uma sociedade justa e fraterna.
     

 Parabéns! E que venha o próximo livro.

* foto 2: capa do livro.