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quarta-feira, 31 de março de 2010

Crônica

Olá todos e todas!
Como diz Marisa Lajolo, a inventividade humana é infinita e a língua nossa de cada dia é campo sempre fecundo para a manifestação do humor, da sensibilidade, da inteligência.
(Para quem, por acaso, não se lembra, pleonasmo ou redundância é a repetição de uma ideia ou conceito, com a finalidade de enfatizar. “Vi claramente visto o lume vivo”. (Camões) – “Vi com meus próprios olhos o terrível acidente”. “Viver a vida” (novela da TV globo). ATENÇÃO!!! o pleonasmo pode ser também um vício de linguagem: “subir para cima”, “descer para baixo”,“entrar para dentro”... )
Então vamos lá! Boa leitura!
OLHA O PLEONASMO!
MARCELO DUARTE*
O Dínamo, tradicional time de futebol do estado, estava há 17 anos sem conquistar um título. Pior: no último campeonato ficou ameaçado de cair para a Segunda Divisão. A oposição dentro do clube cresceu e escolheu o professor Ramalho para ser seu candidato à presidência. Ramalho era professor aposentado de Língua Portuguesa. Tinha tempo de sobra, portanto, para se dedicar a reerguer o time. Abertas as urnas, ganhou apertado, mas ganhou. Com ajuda de amigos empresários, o cartola anunciou uma contratação de impacto para a temporada: o centroavante Zuba. A imprensa toda foi para a sede do clube acompanhar a primeira coletiva do craque:

- Esse sorriso nos meus lábios é para mostrar que o Dínamo vai sair para fora dessa situação – declarou, vestindo a camisa amarela e preta número 9 pela primeira vez.

Ao final da entrevista, guardião austero do bom português, o professor Ramalho passou pelo jogador e cochichou:

- Olha o pleonasmo!

Zuba não entendeu o que o presidente quis dizer. Ficou com um enorme ponto de interrogação na cara.

Na partida de estreia de Zuba, o Dínamo conseguiu uma vitória sobre o Atlântico, um de seus maiores rivais. O centroavante marcou dois gols. Foi eleito o melhor em campo e acabou cercado de repórteres na saída do campo:

- De agora em diante vamos encarar de frente todos os nossos adversários!

O professor Ramalho, que havia entrado no gramado para abraçar seu goleador, esperou os repórteres se dispersarem e disse baixinho outra vez:

- Olha o pleonasmo!

O Dínamo começou a subir na tabela e logo Zuba se transformou no artilheiro do campeonato nacional. Passou a ser convidado a participar das mesas-redondas na TV. Em uma delas, teve a humildade de dividir os méritos da campanha com Tony seu companheiro de time.

- Ele é o elo de ligação entre o meio-de-campo e o ataque do nosso time.

Ao sair da emissora, recebeu um torpedo no celular enviado pelo presidente:

- Parabéns ela entrevista. Muito boa. Mas olha o pleonasmo!

Com uma vitória atrás da outra, a torcida passou a prestigiar os jogos do Dínamo. O estádio estava sempre lotado. Zuba era sempre o mais aplaudido. Em campo, correspondia com gols e mais gols. Na semifinal, contra o Liberdade, não marcou, mas deu um passe primoroso para o ponta-esquerda Pedrão mandar para as redes.

- O que nos interessa é vencer. Se sou eu quem faz a conclusão final ou não, pouco importa.

À sua frente no vestiário, só que um pouco distante, ele enxergou o presidente, feliz da vida, mexendo os lábios. Não era preciso ser especialista em leitura labial para entender o que ele estava dizendo:

“Olha o pleonasmo!”.

Chegou o dia da grande final. Estádio abarrotado, transmissão ao vivo pela TV. O Dínamo sofreu um sufoco no início, mas conseguiu equilibrar a partida no final do primeiro tempo. Os minutos iam passando e os dois times não paravam de perder chances. Até que, a oito minutos do final, Zuba entrou na área do Cometas. Era a oportunidade do Dínamo acabar com o jejum de títulos.

A torcida começou a gritar o nome de Zuba. Ele não fugiu da responsabilidade. Apanhou a bola e pediu para bater. E bateu com elegância. Bola num canto, goleiro no outro. Depois da volta olímpica, o artilheiro atendeu os inúmeros repórteres, que quase enfiavam os microfones em sua boca.

- Quero dedicar essa vitória em especial ao nosso presidente, professor Ramalho. Primeiro por ter acreditado no meu futebol e ter me contratado.

Procurou o dirigente com os olhos. Quando o encontrou, Zuba deu um sorrisinho e continuou:

- E quero, principalmente, agradecer a ele pela dica que me deu na hora de cobrar o pênalti.

O cartola ficou todo envaidecido. Mas... a qual dica o jogador estava se referindo? Zuba logo matou a charada:

- Quando corri para a bola, olhei bem nos olhos do goleiro adversário, apontei para um canto e disse: “Olha o pleonasmo!”. Ele virou para o lado direito e eu mandei a bola no esquerdo.


*DUARTE, Marcelo. Lições de gramática para quem gosta de literatura: Panda Books, 2007, p.53.





quarta-feira, 24 de março de 2010

P S Poema abaixo

(Sei que vocês, alunos e alunas de 2010, ainda não conhecem o endereço desse blog. Assim que ia divulgar, veio a greve...)
Mas antes de postar outra coisa, deixo aqui algumas colocações e interrogações para quando retornarmos às aulas vocês lerem: Nos primeiros dias de aula fizemos uma retrospectiva e reflexão sobre a concepção do ensino de Língua Portuguesa (nossa língua materna) desde meados do século XVIII até o presente momento: a alfabetização, o ensino centrado na gramática e posteriormente na gramática, retórica e poética, até o advento da linguística no final do século XX e as mudanças ocorridas (ou não?) em função disso, até os dias atuais.
O poema abaixo e muitos outros textos que veremos aqui e em sala de aula no decorrer do ano, frequentemente nos levarão a reflexões sobre a linguagem e suas variedades. É preciso ter muita clareza de que devemos aprender e/ou aperfeiçoar a linguagem culta (padrão). Porém, abominar, de uma vez por todas, o preconceito linguístico.
Voltando ao poema: O poeta expressa contraste sobre a linguagem nas duas primeiras estrofes? Quais tipos de linguagens ele aborda nessas estrofes? Qual metáfora ele utiliza para aludir ao refinamento da língua culta, inalcançável para alguns? Professor Carlos Góis é quem sabe?! Desmatar o amazonas da “minha ignorância”? (Carlos Drummond ignorante??!!! ) O poeta percebe distância entre o português do dia-a-dia e o que é ensinado na escola? Mostra ter dificuldades? Isso impediu o poeta comunicar-se, ser um bom escritor? “O português são dois; o outro, mistério.” Como assim????????
Muitas reflexões e interrogações podemos levantar sobre o poema. Mas também podemos somente ler e gostar... ou não.
(Leandro e Mona: os poetas... são...maravilhosos!!!)

terça-feira, 16 de março de 2010

Poema

Aula de português
A linguagem
na ponta da língua,
tão fácil de falar
e de entender.

A linguagem
na superfície estrelada de letras,
sabe lá o que ela quer dizer?

Professor Carlos Góis, ele é quem sabe,
e vai desmatando
o amazonas de minha ignorância.
Figuras de gramática, esquipáticas,
atropelam-me, aturdem-me, seqüestram-me.

Já esqueci a língua em que comia,
em que pedia para ir lá fora,
em que levava e dava pontapé,
a língua, breve língua entrecortada
do namoro com a prima.

O português são dois; o outro, mistério.

ANDRADE, Carlos Drummond de. Esquecer para lembrar, Rio de Janeiro: Record, 1979.

terça-feira, 9 de março de 2010

Lista de livros dos vestibulares 2010 da USP e UNICAMP

A Fuvest, responsável pela seleção da USP (Universidade de São Paulo), e a Comvest, que organiza o vestibular da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), divulgaram a lista de livros para o processo seletivo de 2010. Três novas obras foram incluídas na lista. Confira:

• "O Cortiço", de Aluísio Azevedo;
• "Capitães da Areia", de Jorge Amado;
• "Antologia Poética (com base na 2ª edição aumentada)", de Vinícius de Moraes;
• "Auto da Barca do Inferno", de Gil Vicente;
• "Memórias de um Sargento de Milícias", de Manuel Antônio de Almeida;
• "Iracema", de José de Alencar;
• "Dom Casmurro", de Machado de Assis;
• "A Cidade e as Serras", de Eça de Queirós;
• "Vidas Secas", de Graciliano Ramos;


A lista dos livros foi unificada pela Fuvest e Comvest no vestibular de 2007, 20 anos após a separação dos processos seletivos da Unicamp e da USP, acontecida em 1987(uol/educação)