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Sejam bem-vindos (as)! Vamos criar interrogações, incentivar a leitura, instigar o pensar, espalhar sementes...

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Redação

“Tem de todas as coisas. Vivendo, se aprende; mas o que se aprende, mais, é só a fazer outras maiores perguntas.” (Guimarães Rosa – Grande Sertão: veredas)


(De Zygmunt Bauman a Platão, de Martin Luther King ao Second Life. Segundo professores consultados pela Folha, citações presentes nas 53 melhores redações do vestibular 2010 da Fuvest mostram que seus autores são alunos de muito repertório.
"Tinham bagagem cultural. Apresentaram uma visão crítica da realidade", diz a professora de redação Vivian Carrera após analisar alguns dos textos selecionados pela Fuvest dentre os 30 mil produzidos pelos alunos no primeiro dia da segunda fase, em 3 de janeiro deste ano.
Para ela, a coletânea mostra que pequenas incorreções são menos importantes diante de uma argumentação sólida."Um exemplo foi a presença de clichês. O conteúdo sobressai em relação aos erros", disse.
Eduardo Antônio Lopes, do Anglo, concorda que a seleção derruba alguns mitos. "Esse conjunto de textos mostra que não há uma redação certa.” (PATRÍCIA GOMES) Jornal Folha de S. Paulo-12/05/2010.)* *grifo meu.


Pois é: fica cada vez mais claro o perfil de redação que os vestibulares e o Enem espera dos seus participantes. Trabalhamos em classe a redação, e dentre as que tiraram nota acima de sete, mostro aqui duas. Assim como esses e muitos outros alunos/as estão fazendo, procurem melhorar cada vez mais a sua produção de textos. Obrigada Iza e Ismael (foto) por permitirem socializar os seus textos. Vamos às redações:

Tema: O PODER DE TRANSFORMAÇÃO DA LEITURA (com textos e orientações do Enem-2006)
Redação 1:

A leitura quase extinta

Leitura, um portal bidimensional capaz de levar qualquer pessoa ao lugar desejado. Capaz de trazer conhecimento e lazer.
Livros, jornais, artigos e outros tipos de leitura já foram proibidos devido ao fato de despertar conhecimento, consciência e imaginação. O Brasil, na década de 70, em plena ditadura teve isso como exemplo.
Muitas vezes os livros são caros e parte das escolas públicas não possui bibliotecas, privando o jovem não apenas da educação, mas também, da imaginação. A falta de incentivo é grande, tanto que existem alunos que chegam ao terceiro ano do ensino médio sem nunca terem lido um livro.
Parques de diversões como Play Center e Hopi hari estão em primeiro lugar nas excursões escolares, porém esquecemos os teatros, museus, exposições que acontecem várias vezes ao ano com custo baixíssimo e que muitas vezes são deixados de lado. O museu da língua portuguesa é gratuito aos sábados. E todos os anos, em vários lugares de São Paulo, são apresentadas peças teatrais adaptadas de livros que caem em vestibulares, que poderia ser muito bem aproveitados por todos.
Agora cabe a nós, jovens estudantes, exigirmos um pouco mais de atenção para o incentivo da leitura nas escolas de todos os lugares desse país, e que isso comece desde cedo, pois leitura é cultura.
IZAMARA RIBEIRO SANTANA nº 22 – 3º A

Redação 2:

Benefícios da leitura

As pessoas que leem desenvolvem muitas habilidades, não somente na leitura, mas também na escrita. Ler explora a imaginação.
A cada frase lida você interpreta em sua mente um acontecimento. Portanto, geralmente, quem tem o hábito de ler, tem mais inteligência e mais facilidade para interpretar vários tipos de textos devido ao bom uso do cérebro.
Pessoas que não praticam a leitura, não têm o mesmo potencial e isso as prejudicam em muitos casos; um exemplo são os vestibulares, onde os não-leitores não são aptos a interpretar as questões. Porém, eles se tornando leitores constantes criarão aptidão para tais fins, e esse fator muda muito a vida das pessoas.
Mas também não vamos pensar em livros e outros objetos de leitura apenas como meio de estudo; é um ótimo meio de diversão e entretenimento, basta apenas achar algo que você goste de ler.
Ser leitor faz a diferença. Por isso, é preciso que todos aproveitem ao máximo as oportunidades de leitura nas escolas, bibliotecas e em suas casas, pois assim verão um mundo de conhecimento e de lazer.
ISMAEL NEUBERT ALVES – nº 15 – 3º C


quarta-feira, 19 de maio de 2010

Variedades linguísticas

“O Senhor... Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou. Isso que me alegra, montão.”. (Guimarães Rosa – Grande sertão: veredas)


Olá!!!

Para fazer jus ao bonito nome do meu blog mostrarei antes das postagens, algumas frases do grande mestre da literatura brasileira, João Guimarães Rosa, assim como fiz hoje. Mostrarei frases de outros autores também. Aguardem!
Publico agora um texto da prova da 1ª fase da FUVEST/2007. Trata dos diferentes usos da língua em diferentes contextos. Em 2009 elaborei uma avaliação dissertativa a partir deste texto e a discussão em classe foi muito rica e interessante. Gostei. É sempre bom conhecer e estudar as variedades linguísticas.Vamos ao texto:

“Sou feliz pelos amigos que tenho. Um deles muito sofre pelo meu descuido com o vernáculo. Por alguns anos ele sistematicamente me enviava missivas eruditas com precisas informações sobre as regras da gramática, que eu não respeitava, e sobre a grafia correta dos vocábulos, que eu ignorava. Fi-lo sofrer pelo uso errado que fiz de uma palavra no último “Quarto de Badulaques”. Acontece que eu, acostumado a conversar com a gente das Minas Gerais, falei em “varreção” – do verbo “varrer”. De fato, trata-se de um equívoco que, num vestibular, poderia me valer uma reprovação. Pois o meu amigo, paladino da língua portuguesa, se deu ao trabalho de fazer um xerox da página 827 do dicionário (...). O certo é “varrição”, e não “varreção”. Mas estou com medo de que os mineiros da roça façam troça de mim, porque nunca os ouvi falar de “varrição”. E se eles rirem de mim não vai me adiantar mostrar-lhes o xerox da página do dicionário(...) Porque para eles não é o dicionário que faz a língua. É o povo. E o povo, lá nas montanhas de Minas Gerais, fala “varreção” quando não “barreção”. O que me deixa triste sobre esse amigo oculto é que nunca tenha dito nada sobre o que eu escrevo, se é bonito ou se é feio. Toma a minha sopa, não diz nada sobre ela, mas reclama sempre que o prato está rachado”. (www.rubemalves.com.br/quarto de badulaques)

PS: Vale a pena visitar “A casa do Rubem Alves” no site acima. Sempre que posso, dou uma passadinha por lá “para prosear”. O quarto de badulaques...Como eu gosto! Encontro preciosidades! Agora, tentação mesmo é na loja. Costumo dizer que os livros de Rubem Alves eu não leio; devoro-os. E sou grata por tudo que aprendi com eles, principalmente o “olhar” questionador e amoroso sobre a educação. Gosto de “Pinóquio às avessas”, “Entre a ciência e a sapiência – o dilema da educação”, “Transparência sobre a eternidade”, “Estórias de bichos”, etc., etc. etc. Li recentemente “O velho que acordou menino” e “O sapo que queria ser príncipe” (ambos autobiográficos).

sábado, 8 de maio de 2010

Sobre a Poesia

Um dos objetivos aqui é despertar o gosto pela leitura... Penso que ler conto, crônica, poesia, é um bom começo. Às vezes não entendemos tudo o que o poeta e/ou o eu-lírico quer dizer, mas sentimos atraídos pela beleza; não é verdade? Hoje publico uma poesia de Alberto Caeiro, mas antes “darei a palavra” ao Rubem Alves, grande poeta, filósofo, escritor, psicanalista, educador... Vejam o que ele disse sobre a poesia:


“Somente tardiamente descobri a poesia, depois de haver virado os 40. Que pena! Quanto tempo perdido! A poesia é uma das minhas maiores fontes de alegria e sabedoria. Como disse Bachelard, “os poetas nos dão uma grande alegria de palavras...“ Aí eu lhe pergunto: Você lê poesia? Se não lê, trate de ler. Troque os tolos programas de televisão pela poesia. Se você me disser que não entende poesia eu baterei palmas: Que bom! Somente os tolos pensam entender a poesia! Somente os intérpretes têm a pretensão de vir a entender a poesia! A poesia não é para ser entendida. Ela é para ser vista. Leia o poema e trate de ver o que ele pinta! Você precisa entender um luar? Uma nuvem? Uma árvore? O mar? Basta ver. Ver, sem entender, é uma felicidade! Assim, leia a poesia para que os seus olhos sejam abertos. Dicas: Cecília Meireles, Adélia Prado, Alberto Caeiro, Mário Quintana, Lya Luft, Maria Antônia de Oliveira. Leia poesia para ver melhor. Leia poesia para ficar tranquilo. Leia poesia para ficar mais bonito. Leia poesia para aprender a ouvir. Você já considerou a possibilidade de que você, talvez, fale demais?" (www.rubemalves.com.br)



O GUARDADOR DE REBANHOS

(IX)

Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.

Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.

Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto.
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz.

Alberto Caeiro (heterônimo de Fernando Pessoa)

sábado, 1 de maio de 2010

Conto


Um apólogo aproxima-se das fábulas, pois seres inanimados (objetos) falam e há uma moral implícita. Neste texto Machado de Assis traz uma reflexão maravilhosa sobre o trabalho coletivo. Faz-nos pensar desde um trabalho escolar (como os seminários que estamos preparando sobre as “escolas literárias”) até um grupo de teatro, grêmio, futebol, a organização de uma escola, o trabalho numa empresa, associação, igreja, enfim, qualquer trabalho coletivo. Expressões da época como coser (costurar) não comprometem a leitura.

 UM APÓLOGO

ERA UMA VEZ uma agulha, que disse a um novelo de linha:
— Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma coisa neste mundo?
— Deixe-me, senhora.
— Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me der na cabeça.
— Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos outros.
— Mas você é orgulhosa.
— Decerto que sou.
— Mas por quê?
— É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa ama, quem é que os cose, senão eu?
— Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora que quem os cose sou eu, e muito eu?
— Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço ao outro, dou feição aos babados...
— Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, puxando por você, que vem atrás, obedecendo ao que eu faço e mando...
— Também os batedores vão adiante do imperador.
— Você é imperador?
— Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel subalterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto...
Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa. Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela. Chegou a costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, enfiou a linha na agulha, e entrou a coser. Uma e outra iam andando orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre os dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana — para dar a isto uma cor poética. E dizia a agulha:
— Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco? Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo e acima.
A linha não respondia nada; ia andando. Buraco aberto pela agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa como quem sabe o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha vendo que ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando. E era tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-plic plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a costura, para o dia seguinte; continuou ainda nesse e no outro, até que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile.
Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho, para dar algum ponto necessário. E quando compunha o vestido da bela dama, e puxava a um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, alisando, abotoando, acolchetando, a linha, para mofar da agulha, perguntou-lhe:
— Ora agora, diga-me quem é que vai ao baile, no corpo da baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas? Vamos, diga lá.
Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de cabeça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha:
— Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam, fico.
Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a cabeça: — Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária!
                                                                 Machado de Assis

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Ps.: Quem estaria com a razão? A agulha ou a linha? Por quê? Quem fez o vestido da baronesa?Qual a atitude do alfinete? Qual o papel da agulha? E da linha? Gostaram do conto? Espero que sim.
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