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domingo, 10 de abril de 2011

"Navegar é Preciso"

“Mudar é complicado, sem dúvida, mas acomodar é perecer.” (Mário Sérgio Cortella, filósofo brasileiro)


          Assistimos perplexos aos lamentáveis acontecimentos em uma escola no Rio de Janeiro. Diante do fato, procuramos, em vão, respostas para entender tamanha insanidade. Fica a angústia, a tristeza, a reflexão e a esperança de que medidas sejam tomadas para que essa cena não se repita jamais. Uma dessas medidas, espero, seja levantar novamente a questão do desarmamento, fato que até já foi motivo de plebiscito aqui no Brasil em 2005. Pasmem! 63,94% votaram contra o desarmamento. Oxalá fatos como esse de Realengo façam essas pessoas refletirem e mudar de ideia.
          O educador Mário Sergio Cortella, numa entrevista ao Jornal Hoje, da Rede Globo (assisti via internet, depois), propõe que nós tranquilizemos nossos filhos e filhas, alunos e alunas e todos os jovens mostrando que isso é uma exceção tão grande que jamais irá acontecer novamente, e passar segurança para eles. E que também não podemos generalizar e achar que quem é doente se tornará um assassino. Ainda alertou para o equívoco de tentar culpar, isoladamente, a família, religião, internet, política, sociedade...
          Mesmo com muita dor, precisamos aprender com esse episódio e, principalmente, continuar lutando e acreditando em um mundo melhor. Essa é principal tarefa de todos nós, PROFESSORES, ESTUDANTES E PAIS. Enfim, todos!
Deixo aqui no Mire e Veja dois bonitos textos para homenagear os envolvidos mais diretamente nesse triste episódio e também para nossa reflexão:

1. “Os brasileirinhos” - Emir Sader*
      09/04/2011


Os brasileirinhos

          Os brasileirinhos. Aqueles que partiram cedo demais desta vida. Aqueles para os quais deveríamos estar construindo uma sociedade de paz. Aqueles que deveriam ter escolas seguras, com professores bem formados e com bons salários, com computadores e bons espaços para arte e esporte.
          Aqueles brasileirinhos que choram seus irmãos, seus colegas, sem entenderem bem por que acontecem coisas como essas, por que se usa impunemente armas para entrar nas escolas. Os brasileirinhos que ouviram falar que a educação é fundamental, que eles são o futuro do Brasil. Aqueles brasileirinhos que sonhavam em ser jogadores de futebol, engenheiros, artistas, presidentes da republica.
          Os brasileirinhos que se foram cedo demais, sem saber que se tenta construir um mundo melhor para eles, mas que o velho mundo pesa duramente sobre tudo e sobre todos. Principalmente sobre eles, sobre seus pais e suas mães, sobre seus colegas, seus professores e seus irmãos.
          Aquelas mães e pais dos brasileirinhos, que faziam todo o esforço para tê-los acordados cedinho, com café com leite, pão e manteiga, uniforme e mochila, para chegarem a tempo na escola. Aquelas mães e pais dos brasileirinhos que faziam todo o esforço e o sacrifício para que eles pudessem ter o diploma profissional que eles não puderam ter.
          Aqueles brasileirinhos que brincavam, estudavam, jogavam futebol, cantavam, sonhavam. Aqueles brasileirinhos que queriam ver a Copa do Mundo e as Olimpíadas no Rio. Que queriam ver as favelas pacíficas, as escolas tranquilas, seus pais empregados, seus irmãos entrando na universidade.
          Os brasileirinhos que se foram tão cedo. Que não puderam esperar pelo futuro que se supõe estamos construindo para eles. Que não tiveram oportunidade de se tornar jovens, adultos, de viver a plenitude da vida.
          Os brasileirinhos que são a maioria da infância e da juventude do Brasil, mas não são centralmente contemplados pela mídia, discriminados e invisibilizados, salvo quando acontecem tragédias.
Enquanto todos nós não nos sentirmos brasileirinhos, com suas esperanças e suas fragilidades, com suas vontades e suas frustrações, seus sonhos e seus pesadelos, e lutarmos, junto com todos eles, brasileirinhos serão apenas os meninos pobres, despossuídos, carentes. Um Brasil para todos tem que ser, antes de tudo, um Brasil de todos os brasileirinhos.
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2. “Vidas Tiradas”, um lindo poema do meu ex-aluno, Carlos Henrique* produzido em 2010 e já publicado aqui nesse blog. Mais atual do que nunca.



Vidas Tiradas

Rio, São Paulo, Brasil, tiro,
Tá, tá, tá, tá, tá,
É tiro sem parar.

Agressão, decadência, humilhação, tiro,
Tá, tá, tá, tá, tá,
Violência de matar.

Crianças, mulheres, todos, tiro,
Tá, tá, tá, tá, tá,
Pessoas a sangrar.

Negros, brancos, todos, tiro,
Tá, tá, tá, tá, tá,
Famílias a chorar.

Pobres, ricos, todos, tiro,
Tá, tá, tá, tá, tá,
Silêncio de gritar.

Vergonha, tristeza, dor. Tiro.
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*Emir Sader,sociólogo e cientista,mestre em filosofia política e doutor em ciência política pela USP.


*Carlos Henrique Ferreira da Silva, ex-aluno, amigo, poeta, em preparação para os estudos de filosofia e teologia, tendo uma poesia publicada no livro I Prêmio Ser Autor (SEE-SP) em parceria com Emerson da Costa Santos, três poesias publicadas no site do Jornal Mundo Jovem – PUC-RS, dentre elas, Vidas tiradas.