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sábado, 24 de dezembro de 2011

Feliz Natal! Feliz Ano Novo!

“Ó Deus, / (...) / Somos humanos, / nossos verbos têm tempos, / não são como o Vosso, / eterno. (Adélia Prado)

                                                                                            Olá!

       Véspera de Natal... Desejo a todos e todas que acompanham o Mire e Veja Travessia, um feliz e santo natal e um ano novo de grandes conquistas e alegrias.  
      Que o mundo viva mais intensamente os ensinamentos de Jesus e que cada um deixe um cantinho bem aconchegante no seu coração para que Ele seja bem recebido nesse natal. Que possamos fazer aquilo que foi sugerido a Nicodemos: “Nascer de novo”. Nascer para a paz, a justiça, a solidariedade, a ética; para a partilha, para o amor e para a VIDA.
       Deixo para todos (as), como um singelo presente, um texto de Frei Betto, bem poético e com significaticas metáforas, que me toca profundamente. Espero que vocês gostem. Obrigada a todos (as) que, de alguma forma, prestigiaram e enriqueceram esse espaço em 2011. Para mim foi muito bom passar mais um ano em companhia de todos (as). Sintam-se sempre muito (a) bem-vindo (a) ao Mire e Veja Travessia! Beijos fraternos e carinhosos.


Natal, singelos propósitos! – Por Frei Betto

        Neste Natal, guardarei em caixas bem fechadas o que me transmuta naquele que não sou: a inveja, o ciúme, a sede de vingança e todos os ressentimentos que me corroem as vísceras. Lacradas as caixas, atirarei todas nas profundezas do mar do olvido.
        Neste Natal, esvaziarei o escaninho de minhas torpes intenções; as gavetas de tantas vãs ilusões; os armários de compulsivas ambições. De pés descalços, trilharei a senda saudável de uma existência modesta, por vezes solitária, sempre solidária.
        Não darei ouvidos ao crocitar dos corvos em minhas janelas, nem ficarei indiferente às aquarelas pinceladas pela dor alheia e manterei vedada a chaminé à entrada consumista de Papai Noel.
          Tecerei, com as agulhas do acalanto e os fios invisíveis do mistério, o tapete promissor dos sonhos que me fomentam o entusiasmo. Recolherei as bandeiras da altivez militante e, numa caneca de barro, derramarei singelos propósitos: refrear a língua de maldizer outrem; reconhecer as próprias fraquezas; exercer a difícil arte de perdoar. Sorverei de um só gole até inebriar-me de compaixão.
        Armarei, na varanda de casa, uma árvore de Natal cujo tronco será da mesma madeira que os princípios que me norteiam os passos; os galhos, as sedutoras vias às quais ousei dizer não; as flores, a paz colhida ao enclausurar-me no silêncio interior; os frutos, essa esperança-lagarta que insiste em metamorfosear-se em utopia sobrevoando o pessimismo que me assalta.
        Aos pés de minha árvore deixarei vazios os sapatos de minhas erráticas peregrinações ao mundo inconsútil dos apegos que me sonegam o que a vida melhor oferece: a experiência amorosa de transcendê-la. Ao lado, minha lista de pedidos: a leveza imponderável da meditação; o dom de respeitar o limite das palavras; a felicidade de saciar-me na brevidade dos meus dias.
        Neste Natal, montarei no canto da sala o presépio de minhas inquietudes. No lugar de franciscanos animais, a Declaração Universal dos Direitos Humanos; como são José, um árabe fiel ao Corão; Maria, uma jovem judia semelhante à de Nazaré; Jesus, a criança africana carcomida pela fome.
          Tragam os reis magos três oferendas: o ramo de oliveira preso ao bico da pomba que anunciou a Noé o fim do dilúvio; a brisa suave que soprou sobre Elias; o pão repartido na estalagem de Emaús.
         Não celebrarei liturgias solenes em dissonância com o glória cantado pelos anjos do presépio; não me fartarei em ceias pantagruélicas enquanto o Menino se abriga ao relento num cocho; nem darei presentes que me doem no bolso e no coração, embalados em falsos sentimentos.
         Sim, me farei presente lá onde a família de sem-teto, escorraçada de Belém, ocupa um pedaço de terra nas cercanias da cidade para que do ventre de Maria brote a certeza de que a justiça haverá de brilhar como a estrela de Davi.
        Neste Natal, serei todo orações, dançarei ao som das cítaras do reino de Salomão, sairei pelas ruas cantarolando salmos, despirei todos os adereços de neve e, neste país tropical, deixarei que o sol pouse em minha alma.
        Colherei as lágrimas dos desesperados para regar meu jardim de girassóis e arrancarei os impropérios da boca dos irados para revogar a lei do talião. Nos becos da cidade, celebrarei com os bêbados, os mendigos, as prostitutas, a quem tratarei por um único nome: Emanuel. E, num grande circo místico, buscarei com eles a resposta à pergunta que jamais se cala: “O que será que será que cantam os poetas mais delirantes e que não tem governo nem nunca terá?”
        Neste Natal, rogo a Deus ressuscitar a criança escondida em algum recanto de minha memória, a que um dia fui, menino que sabia confiar e, desprovido do pudor do ócio, livre das agruras do tempo, era capaz de imprimir fantasias coloridas ao lado obscuro da vida.
        Quero um Natal de brindes à alegria de viver, hinos à gratidão da fé, odes à inefável magia da amizade. Natal cujo presépio seja o meu próprio coração, no qual o Menino Jesus desfaça laços e faça desabrochar todo o amor que se oculta nos sombrios porões do meu ego.

*Frei Betto é escritor, autor de A arte de semear estrelas (Rocco) entre outros livros.
 Correio Brasiliense - 19/12/2008
* grifo meu

sábado, 10 de dezembro de 2011

Nordestinos e Sudestinos

“Não sou nada. / Nunca serei nada. / Não posso querer ser nada. / À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.” (Álvaro de Campos, heterônimo de Fernando Pessoa)

         Olá!
        A Revista Carta Capital dessa semana p.p. (nº 675) traz uma reportagem “Especial Nordeste – A nova onda de desenvolvimento regional”. Aponta para os avanços econômicos, sociais, políticos, culturais e  vários outros aspectos da região. Chamou-me a atenção, dentre muitas outras coisas, uma entrevista com o antropólogo, poeta, tradutor e ensaísta baiano, Antônio Risério - A autoestima reconquistada.
        Na entrevista, ao responder sobre como o restante do Brasil vê o Nordeste, ele avalia que há um novo olhar sim, sobre o Nordeste, mas restritos a empresários, políticos, jornalistas cientistas, etc., mas que em plano de massas a mudança ainda é muito pequena. E acrescenta: “A mentalidade sudestina (sim: assim como existem nordestinos, existem sudestinos), de um modo geral, ainda é povoada por velhos estereótipos e preconceitos. Ele aponta como uma das causas do preconceito, a desinformação sobre o que está acontecendo atualmente no Nordeste.
        É fato que o preconceito existe. Muitas vezes, infelizmente, por parte dos próprios nordestinos, que não assumem sua origem e/ou dos seus pais. Costumo “pegar pesado” com a manifestação de preconceito – qualquer tipo de preconceito - seja em sala de aula ou fora dela. Vejo no preconceito, uma atitude de pessoas desinformadas, portanto, ignorantes. E com o advento da internet, em alguns momentos vemos manifestações preconceituosas contra o Nordeste e o povo nordestino que é uma coisa nojenta, grosseira, extremamente doentia. Lamentável! Quero um Brasil como canta o nosso grande Chico Buarque em "PARATODOS": “O meu pai era paulista / meu avô pernambucano / o meu bisavô mineiro / meu tataravô baiano / estou na estrada há muitos anos / sou  artista brasileiro."(...)
        Sabemos que a elevação da autoestima dos nordestinos e de qualquer outros povos e/ou região é fruto da elevação do nível de consciência política da população e da sua participação nas diversas esferas sociais. Na medida em que temos consciência dos nossos direitos (e deveres) e sabemos exercê-los, o nível de autoestima aumenta, pois somos capazes de viver com dignidade, sem submetermos à dominação do coronelismo e/ou qualquer outro grupo (pré) dominante.
        Inevitável a lembrança de que no próximo ano haverá eleição para prefeitos/as e vereadores/as.  É muito importante que os nordestinos e brasileiros em geral não deixem  retroceder as conquistas feitas - inclusive minha terra natal, a Bahia -, mas que saibam reconhecer e prosseguir a luta pelo progresso, justiça, igualdade social. E os sudestinos (gostei dessa nova expressão) e brasileiros em geral que precisam conquistar ou reconquistar sua autoestima – inclusive minha terra de morada, São Paulo – tenham a sabedoria de escolher melhor os seus representantes.  A decisão tomada numa eleição determina que tipo de vida queremos para a comunidade em que vivemos.

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Em tempo: Amanhã acontece o plebiscito sobre a divisão do estado do Pará. Não à divisão! Chega de separatistas; seja no Pará, seja no Rio Grande Sul, seja em São Paulo, onde o movimento separatista é camuflado...