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terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Feliz ano novo

“O ensino ideal, a educação ideal, que todos desejamos, há de ser uma educação para a liberdade” (Paulo Freire)



Olá!
Publico essa foto tirada pelas minhas alunas na hora do tchau depois da prova final do SAG. Achei-a representativa e desejo que, simbolicamente, represente todos os alunos e alunas que tive a alegria de conviver e caminhar juntos nesse ano de 2010. Que todos tenham sabedoria e entusiasmo para desbravar novos caminhos nesse ano vindouro.
Publico também, para nossa reflexão, um texto de Frei Betto. Além da mensagem, o texto é cheio de antíteses, paradoxos, metáforas, intertextualidades e diversos recursos linguísticos, que fica impossível ler e não gostar. (não se prendam às palavras desconhecidas; aproveitem a beleza e a profundidade do texto)
        Um feliz e abençoado ano novo para todos e todas e obrigada pelo carinho e pela excelente companhia aqui no Mire e Veja Travessia. Que em 2011 possamos Mirar e Ver muitas coisas boas e enriquecedoras; muitas boas Travessias...
Vamos ao texto:

Feliz Ano Novo

Frei Betto*

          Feliz ano-novo para os que tiveram perdas no ano velho e, ainda assim, recolhem pedras em suas aljavas. Para os colecionadores de afetos que jamais permitem que suas lagartas se transformem em borboletas. Para os cínicos repletos de palavras sem raízes no coração.
          Feliz ano-novo para as bordadeiras de emoções, que gastam a vida desfiando intrigas e agulhando a boa fama alheia. Para os céticos desprovidos de horizontes e para os que se debruçam sobre a própria solidão para contemplar abismos. Para os ressuscitadores de desgraças, para os que se escondem em seus sapatos e para os idólatras que cultuam os poderosos.
          Feliz ano-novo para os que asfixiam a criança dentro de si e para os que se fantasiam de palhaço para camuflar tristezas. Para os que gastam a vida contando dinheiro, sempre em débito com o amor. Para os que acumulam bens e desperdiçam virtudes, ajuntam poder e semeiam mágoas, galgam a fama e pisam em sentimentos.
          Feliz ano-novo para os sonegadores de esperanças e para os que creem apenas nos valores da bolsa. Para os mancos de bondade, cegos de utopias, ébrios de ambições e medrosos perante a ousadia de viver. Para os que têm asas e não sabem voar, são águias e ciscam como galinhas, guardam em si um tigre e miam como gatos.
         Feliz ano-novo para os que se agasalham com gelos e jamais dão ouvidos à sabedoria do fogo. Para os que alugam a própria dignidade e se revestem da ideologia do consenso. Para os que escondem montanhas debaixo da cama, congelam estrela estrelas no bolso e torcem o arco-íris até sangrar.
         Feliz ano-novo para os que exibem no pedestal de sua mente o próprio corpo, jejuam por razões estéticas e mendigam aos olhos alheios a moeda falsa da admiração convencional. Para os que ficam inebriados diante da paisagem televisiva e como Carolina*, veem o mundo passar na janela eletrônica. Para os que proferem palavras furtivas, segregam mentiras, sonham com elefantes de papel e tentam fugir da própria sombra.
         Feliz ano-novo para os voluntários da servidão, para os que amam amar amores e desamores alheios e nunca experimentam e êxtase de uma paixão inefável. Para os crentes desprovidos de fé, para os políticos vazios de senso cívico, para os democratas que exaltam medidas autoritárias.
         Feliz ano-novo para os que fazem de seus dias tijolos de catedrais escuras, navegam em um pingo de água e jamais perdem tempo com uma criança. Para os que cimentam árvores, fazem pontarias em orquídeas e pintam o verde de marrom. Para os que jamais escutam o silêncio, vociferam palavras sem nexo e tratam seus semelhantes como os motoristas reclamam dos buracos da estrada.
         Feliz ano-novo para os que cercam suas almas com arame farpado, abrem com foices seus caminhos na vida e, ainda assim, não sabem que rumo tomar. Para os que traçam labirintos em seus mapas imaginários, enfeitam a vida com buquês de impropérios e rasgam o ventre da água com os seixos adormecidos no leito de seus pesadelos.
         Feliz ano-novo para os que cavalgam em hipocampos grávidos de dinamites, multiplicam teorias para subtrair a prática e escondem a alegria no fundo da gaveta.
         Feliz ano-novo para os que se julgam imortais, incensam a própria imagem e tocam címbalos para os cifrões que lhes servem de prisão E para os que estão terminantemente proibidos de tomar, nas mão vazias de dinheiro, um prato de comida.
         Feliz ano-novo para todos os infelizes que fazem de sua vida luas minguantes e se vestem com escafandro de seus temores, afogados no sal de um oceano ressecado.
Novos sejam para eles o ano, a vida e o espírito, revertidos e revestidos de ensolaradas esperanças.




*refere-se à música de Chico Buarque.
*texto publicado no Jornal o Estado de S. Paulo em 31/12/1997 – A2
* grifo meu
*Frei Betto, frade dominicano e escritor, tendo publicado mais de cinquenta livros, dentre eles, “Alucinado Som de Tuba”, Ed. Ática. Ganhador de diversos prêmios literários e também pela sua luta nos movimentos de direitos humanos e sociais.













sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Sarau "A Poesia da Canção"

“Quem sabe faz a hora, não espera acontecer” (Geraldo Vandré)


         Olá, todos e todas! 
         Foi um privilégio organizar, proporcionar e vivenciar mais esse espetacular evento artístico em nossa escola. Valorizo em especial o processo, a travessia, vocês sabem disso. Mas quando o produto final fica bonito, a satisfação é imensa. Compartilho com todos os participantes, os parabéns e elogios que a mim foram transmitidos. Parabéns a vocês que participaram e souberam trabalhar em grupo, uns ajudando aos outros, compartilhando e somando talentos tornando possível mais essa vivência e apreciação artística excepcional.
        Ficaram prontas as fotos do sarau e, enfim, posso compartilhar com vocês e todos do Mire e Veja Travessia. É  apenas um pouco do muito que foi esse belíssimo e marcante trabalho.

Acompanhem-me agora nessa linda e inesquecível viagem!

TEXTO DE ABERTURA:


        Queridos alunos e alunas, ex-alunos e alunas, colegas professores, equipe de gestão, inspetores, funcionários e convidados:

         Depois do inesquecível Sarau “Nos Prados de Adélia”, e de carinhosos e insistentes pedidos de alguns alunos, voltamos aqui com o nosso segundo Sarau: “A poesia da Canção”.
         É nosso papel divulgar, instigar, sensibilizar e promover a arte, o que faremos com alegria. Desta vez, além da poesia da poesia, daremos ênfase à poesia da canção.
        O repertório é bastante rico, significativo e bonito, perpassando pelos vários gêneros e épocas da música e da poesia, pois em todos os momentos da nossa história a arte se fez presente, manifestando beleza, sentimentos, protestos e muita poesia.
        Convido todos aqui presentes a reviver, aprender, refletir, apreciar a beleza criada pelos grandes mestres da música e da literatura, hoje representados pelos nossos talentosos alunos e alunas do terceiro ano do Ensino Médio.
        Enfrentar e vencer desafios têm sido o nosso lema na educação. E eles compreenderam bem esse fato ao apresentar esse nosso segundo sarau. Confesso que o que me impulsiona a enfrentar esses desafios, além do amor à arte e à educação, é o talento, a dedicação e o carinho de vocês. Continuem aperfeiçoando seus talentos artísticos e o gosto pelas artes. Isso é fundamental nessa e em todas as fases da vida, pois amplia a visão cultural, social e histórica, aguça a sensibilidade humana e alimenta o espírito. Coisas tão raras na sociedade em que vivemos.
        Obrigada a todos da nossa escola pelo apoio dado, aos ex-alunos pela alegria do reencontro e aos alunos e alunas artistas que aqui se apresentarão agora, obrigada pela amizade, alegrias, emoções, ansiedades e expectativas vividas nos ensaios. Tudo isso nos fez crescer e estreitar laços. Desde já os meus sinceros e carinhosos agradecimentos, parabéns e boa sorte na apresentação.
Professora Eliran.

PROGRAMAÇÃO: 

MÚSICAS, POESIAS E
HOMENAGEM: Aos finalistas do concurso de redação: Caio Aparecido da Rocha Gomes, Carlos Henrique Ferreira da Silva, Emerson Costa Santos e Lucas Marinho Rodrigues. Parabéns!

FOTOS:



+ uma foto:


Espero que tenham gostado!

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Poema em linha reta

“Tudo vale a pena se a alma não é pequena.” (Fernando Pessoa, poeta português)

Olá!
Quanta correria! (Ufa!) Final de 4º bimestre... Mesmo assim dei uma passadinha por aqui, com o mesmo carinho de sempre, para:
1. Lembrar  da exposição sobre Fernando Pessoa “As pessoas de Pessoa” que estará no Museu da Língua Portuguesa somente até 31/01/2011. Já fui conferir e recomendo. A exposição está belíssima! Quem  mora em S.P. não pode perder.
2. Deixar "um poema em linha reta”. Quem de nós não já se sentiu assim como Álvaro de Campos (um dos heterônimos de Fernando Pessoa), “tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil”?



Poema em linha reta
Fernando Pessoa
(Álvaro de Campos)

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda  a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?

Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.