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quarta-feira, 18 de julho de 2012

Os poemas, os passarinhos...

 "Na lata do poeta tudo nada cabe / Pois ao poeta cabe fazer / Com que na lata venha caber / O incabível" (Gilberto Gil, cantor e compositor - em Metáfora)

Saudades de poesia, dos poemas... De novo...

OS POEMAS

Foto: Evaldo Oliveira - Brotas de Macaúbas/BA
Os poemas são pássaros que chegam           
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechar o livro, eles alçam voo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto;
alimentam-se um instante em cada par de mãos e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti...
                                                           
QUINTANA, Mário. Nariz de vidro. São Paulo: Moderna, 1984, p. 12


 A UM PASSARINHO

Foto:  Evaldo Oliveira - Brotas de Macaúbas/BA

Para que vieste                                         
Na minha janela
meter o nariz?
Se foi por um verso
Não sou mais poeta
Ando tão feliz!
Se é para uma prosa
Não sou Anchieta
Nem venho de Assis.
Deixe-te de histórias
Some-te daqui.

MORAES, Vinícius de. Antologia poética. São Paulo: Cia das letras, 1992, p. 117 

Foto: Evaldo Oliveira - Brotas de Macaúbas/BA





POEMINHA DO CONTRA

Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!

QUINTANA, Mário.

domingo, 15 de julho de 2012

Lembrete

“Poesia, a minha velha amiga... / eu entrego-lhe tudo / a que os outros não dão importância nenhuma...” (Mário Quintana, poeta brasileiro)


Saudades de poesia, dos poemas; mesmo pequeninos... Eles nos falam por meio de metáforas. Isso é maravilhoso!



LEMBRETE
Não deixe portas entreabertas.
Escancare-as
ou bata-as de vez.
Pelos vãos, brechas e fendas
passam apenas semiventos,
meias verdades
e muita insensatez.

FIGUEIREDO, Flora. Calçada de verão. Poemas. Editora Nova Fronteira – 1989

domingo, 1 de julho de 2012

Por causa de um certo Reino

"Ao final do caminho me dirão: - E tu, viveste? Amastes? E eu, sem dizer nada, abrirei o coração cheio de nomes.” (Dom Pedro Casaldáliga)


  Olá!

      30 dias de páscoa de um evangelizador combatente: Padre João Cristiano. E é difícil falar dele! São muitas histórias... Daria um livro.

Por causa de um certo reino decidiu ser sacerdote e, a exemplo de Santo Afonso, saiu para evangelizar... De sua terra natal (Amsterdam – Holanda)  veio morar no Brasil, passou algum tempo em São Paulo e foi para a Bahia, mais precisamente para a diocese de Barra, região muito carente. Inspirado e animado pelas ideias do Concílio Vaticano II, Johannes Christiaan Franciscus Appelboom, o Pe. João Cristiano, foi ser pároco em Brotas de Macaúbas e por lá viveu mais de 40 anos. A cidade que "ele escolheu para viver e para morrer", segundo Dadá Ferro, meu amigo.

        A "CONSTRUÇÃO DO REINO DE DEUS AQUI NA TERRA" era a sua missão e a maior lição pregada pelo combatente evangelizador. Nós, que pertencemos ao seu "rebanho" por muitos e muitos anos, com certeza nunca esqueceremos essa lição. Semente plantada e cultivada. Para ele a maior tarefa daqueles que se dizem cristãos é promover  justiça, igualdade, fraternidade, solidariedade e dignidade humana, atuando firmemente na sociedade para transformá-la, pois Cristo veio ao mundo para isso: para fazer a vontade do Pai: “Que todos tenham vida, e vida plenamente” (Jo, 10, 10). As orações seriam o nosso alimento espiritual para atuar como sal, luz e fermento, fazendo o reino de Deus acontecer e crescer aqui na terra.

      Como pároco, ele anunciava e denunciava... Óbvio, não agradava àqueles que detinham o poder e faziam disso um meio para oprimir e alienar o povo. Era “uma pedra no sapato” da elite política brotense, pois denunciava a corrupção, a incompetência política e a falta de compromisso dos administradores do dinheiro público. E organizava as comunidades. Isso, para ele, era parte fundamental da evangelização. Alvo de críticas constantes, nunca mudou seus ideais e nunca se amedrontou ou desanimou nem por um segundo. Consumia o seu tempo (e o nosso! Ufa!) à sua maneira, na construção desse certo Reino.  Perfeccionista ao extremo encontrava em mim (também perfeccionista) uma aliada na parte burocrática, que, ao que parecia, eu fazia do seu jeito; com seus caprichos. Quantas noites em claro, nos relatórios, prestações de contas, etc. E...na máquina de escrever!!! Não podia errar! (Por causa de um certo Reino...)

       Com ajuda financeira de entidades do exterior, de amigos e familiares, pe. João fazia, como diz o nosso povo, “coisa que até Deus duvida”. Foi radical? Foi! Polemizou? Sim.! Muitas vezes impunha ideias? Sim! Era preciso ficar de olhos abertos, pois o homem era poderoso e esperto! Mas em nenhum momento decepcionou o seu rebanho. Procurava ser justo sempre. Quando se tratava de dinheiro então, era justo, justíssimo, como diria José Dias, personagem de Machado de Assis.

      E foi construindo esse Reino... Trabalhava incansavelmente com a sua equipe na formação das CEBs (Comunidades Eclesiais de Base), abrindo estradas, literalmente, tais eram as condições de acesso às comunidades naquela época. Criava todos os meios e instrumentos que achava necessários para tal: entidades, materiais, pessoal, tempo... (“tempo é questão de preferência” - dizia!). E desbravava! 

      Hoje temos comunidades que sabem se organizar, povo mais consciente e livre, e há quatro  anos temos um município governado de forma democrática; o dinheiro do povo vai para o povo, a busca pela dignidade humana é perseguida incansavelmente e a vontade de pagar e apagar tantas injustiças e atrasos do passado vem sendo perseguida! Conquistar um governo assim com uma história de décadas de opressão e alienação não é fruto do acaso. É fruto do trabalho de um povo e suas lideranças comprometidas. E aí tem destaque o trabalho de pe. João, e esse reconhecimento é unanimidade em toda região.

      Assim, Johannes Christiaan Franciscus Appelboom, fica na memória e nos corações, e entra, definitivamente, para a História de Brotas e dos brotenses. 

Um pastor que lutou por seu rebanho. E, com certeza, continuará lá no céu olhando com muito carinho por esse povo que ele escolheu para evangelizar. Descanse em paz, evangelizador combatente, corajoso! Não se esqueça do povo brotense que também o adotou como filho. Continue o ajudando a avançar sempre na caminhada pela justiça, paz, democracia e dignidade, "CONSTRUINDO O REINO DE DEUS AQUI NA TERRA".


PS: última vez que passei na C.S.A.,  pe. João não estava. Deixei com Zezinho um DVD (que sempre me esquecia de levar) de uma belíssima apresentação na catedral da Sé aqui em São Paulo da qual meu filho participou – Paixão segundo São Mateus – Johann Sebastian Bach. Recebi dele uma simpática carta de agradecimento! Sabia dos gostos dele!

*"Por causa de um certo reino: Nome de uma música de José Fernandes de Oliveira scj (pe. Zezinho)

Pintura feita por Meire Santos em homenagem aos 50 anos de sacerdócio de Pe. João Cristiano em 03/12/2011
Pe. João Cristiano (1º à esquerda) - entrega de certificados para alunos do SEDEC