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quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Corrida de dez dias

“A alegria não chega apenas no encontro do achado mas faz parte do processo da busca” (Paulo Freire – Pedagogia da Autonomia)

Frequentemente várias pessoas e/ou setores da sociedade discutem o papel da mídia e a influência e/ou manipulação da mesma em época de eleições.
Recentemente o tema voltou à tona, envolvendo a Rede Globo, os jornais Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo, a revista Veja - onde, segundo o escritor Leonardo Boff, “se instalou a razão cínica e o que há de mais falso e chulo da imprensa brasileira” (e eu concordo plenamente) - dentre outros.
Desta vez, a vítima seria o atual presidente da república e a sua candidata a presidente.
Várias pessoas que considero ter credibilidade para abordar o assunto têm se manifestado de forma excepcional. Escolhi uma crônica de Luis Fernando Veríssimo, grande nome da literatura brasileira, publicada no dia 24/09/2010. Espero que contribua para sua reflexão. Vamos à crônica.


CORRIDA DE DEZ DIAS 


Luis Fernando Veríssimo

     De hoje à data da eleição teremos dez dias de manchetes nos jornais e duas edições da Veja. Não sei até quando podem ser publicadas as pesquisas sobre intenção de voto, mas até a última publicação - aquela que, segundo os céticos, é a mais confiável, pois é a que garante a credibilidade e o futuro dos pesquisadores - veremos uma corrida emocionante: o noticiário perseguindo os índices da Dilma para tentar derrubá-los antes da chegada, no dia 3. O prêmio, se conseguirem, será um segundo turno. Se não conseguirem a única dúvida que restará será: se diz a presidente ou a presidenta?
     Até agora as notícias de corrupção na Casa Civil não afetaram os índices da Dilma. Estou escrevendo na terça, talvez as últimas pesquisas mostrem um efeito retardado. Mas ainda faltam dez dias de manchetes e duas edições da Veja, quem sabe o que virá por aí? O governo Lula tem um bom retrospecto na sua competição com o noticiário. A popularidade do Lula não só resistiu a tudo, inclusive às mancadas e aos impropérios do próprio Lula, como cresceu com os oito anos de denúncias e noticiário negativo. Desde UDN x Getúlio nenhum presidente brasileiro foi tão atacado e denunciado quanto Lula. Desde sempre, nenhum presidente brasileiro acabou seu mandato tão bem cotado.
     Acrescente-se ao paradoxo o fato de que o eleitorado brasileiro é tradicionalmente, às vezes simplisticamente, moralista. Elegeu Jânio para varrer a sujeira do governo Juscelino, elegeu Collor para acabar com os marajás, aplaudiu a queda do Collor por corrupção presumida e houve até quem pedisse o impedimento do Itamar por proximidade temerária com calcinha transparente. Mas o moralismo tornou-se politicamente irrelevante com Lula e, por tabela, para os índices da Dilma. É improvável que volte a ser decisivo em dez dias. Mas nunca se sabe. O que talvez precise ser revisado, depois dos oito anos do Lula e depois destas eleições, quando a poeira baixar, seja o conceito da imprensa como formadora de opiniões.
     Mas a corrida dos dez dias começa hoje e seu resultado ninguém pode prever com certeza. Virá alguma bomba de fragmentação de última hora ou tudo que poderia explodir já explodiu? O que prevalecerá no final, os índices inalterados da Dilma ou o noticiário? Faça a sua aposta.



Fonte: jornal O Estado de S. Paulo – 24/09/2010.
*grifo meu.

2 comentários:

  1. Olá pessoal! Ola Profa!
    Gostei muito do texto do Luís Fernando Veríssimo e da postagem em si. Creio q ela é muito propícia para o tempo q estamos vivendo. Pois, todos os dias somos "atingidos" por uma "chuva de meteoros" de informações da mídia q seguem uma ideologia e, se deixarmos, nos transforma em "cidadãos marionetes" manipulados pela mídia.
    Como disse Veríssimo, precisamos rever o "conceito de imprensa como formadora de opiniões" e descobrirmos as ideologias e posições políticas e sociológicas q estão por trás de tudo o que é selecionado para ser exposto a nós.
    O prêmio foi conquistado: um segundo turno. E a corrida continua. Tudo se resolverá nas urnas. Eu espero.
    “Mire, Veja, Vote e siga a travessia.”
    Até mais... Fui...

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  2. Carlos: Gostei muito do seu comentário. Tb achei a crônica de Veríssimo bastante oportuna nesse momento.
    Vc mostra sensatez e compromisso q deveriam permear todos os jovens da sua geração. O poder de manipulação dos meios de comunicação é muito grande. Eles impõem cultura, moda, programas e até candidatos. É preciso “olhos bem abertos” nesta hora para não sermos enganados.
    “...descobrirmos as ideologias e posições políticas e sociológicas que estão por trás de tudo q é selecionado para ser exposto a nós” Que filosófico! Gostei. É muito importante conhecermos esse processo para exercermos a nossa cidadania. Caso contrário, seremos barco que navega sem rumo, sem destino.
    E daqui até 31 de outubro teremos uma corrida de “mais de dez dias” de manchetes e edições da Veja. E tudo será definido nas urnas, com a consciência de cada um. Espero...
    Beijos!!!!!

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