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quinta-feira, 30 de setembro de 2010

O Bicho

“Enquanto houver pobres e excluídos... Teologia da Libertação: mil razões para continuar.” (Dirceu Benincá, cientista social, RS)





O BICHO

Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.


Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.


O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.


O bicho, meu Deus, era um homem.



Manuel Bandeira
Rio, 27 de dezembro de 1947



3 comentários:

  1. “Quem me dera/Ao menos uma vez/Provar que quem tem mais/Do que precisa ter/Quase sempre se convence/Que não tem o bastante/Fala demais/Por não ter nada a dizer.” (Índios, Legião Urbana)

    Os tempos mudaram, muita coisa mudou, mas existem coisas que insistem em permanecer imutáveis.
    Vejo pessoas pedindo comida de barriga cheia, pedindo água sem ter sede, pedindo roupa com o guarda-roupa cheio.
    Vejo pessoas famintas pedindo lixo, pessoas nuas pedindo sobras de pano, pessoas sedentas pedindo chuva, para beber da poça d’água formada por ela.

    Este mundo capitalista, consumido pelo capital. Este capital, que consome as gentes. Estas gentes, que consomem o mundo. Neste mundo, vale mais quem tem mais e, por isso, todos querem mais, sempre mais do que já têm. Enquanto quem quer somente viver, precisa comer do lixo, das sobras que as gentes deixam, e ainda são vistos como bichos.
    “Quem me dera, ao menos uma vez, que o mais simples fosse visto como o mais importante; Mas nos deram espelhos e vimos um mundo doente.“ (Índios, Legião Urbana)

    Através dessa poesia, de Manuel Bandeira, vemos como um espelho o reflexo da sociedade, da humanidade, do homem. Vemo-nos, o estado em que se encontramos.
    Este é o mundo em que vivemos. Esses bichos estão em todos os lugares, nas cidades pobres e desenvolvidas. Nos países ricos e de terceiro mundo. Eles estão ai, até que alguém os pise.

    “Quem me dera/Ao menos uma vez/Acreditar por um instante/Em tudo que existe/E acreditar/Que o mundo é perfeito/Que todas as pessoas/São felizes...”

    Atenciosamente.

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  2. Olá pessoal, Oi Profa.
    Gostei muito do poema, que nos traz uma crítica social muito importante para refletirmos. Uns tem tudo, outros nada. É o capitalismo... "Tudo gira em torno do capital"... E ainda, infelizmente, existe muita desigualdade social...

    Até mais... Fui...

    "Vamos celebrar a fome/ Não ter a quem ouvir
    Não se ter a quem amar/ Vamos alimentar o que é maldade/ Vamos machucar um coração/ Vamos celebrar nossa bandeira/ Nosso passado de absurdos gloriosos/ Tudo o que é gratuito e feio
    Tudo que é normal..." (Perfeição - Legião Urbana)

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  3. Mr. Cuca: fico muito contente quando vejo os seus comentários ENRIQUECEDORES e POÉTICOS aqui no mire e veja. Quando vc falou em terceiro mundo lembrei-me das “tríades” do poema o Bicho, por exemplo: três vezes o substantivo concreto “bicho”; três tercetos (estrofes de três versos); três animais citados no terceiro terceto: cão – gato – rato; a tríade Deus - homem – bicho. Mas é só uma curiosidade... Obrigada pela sua participação.

    Carlos: o poema é mesmo uma crítica social, uma crítica ao sistema capitalista, uma crítica a degradação do ser humano. O homem realiza ações próprias dos animais “catando comida entre os detritos”, “engolia com voracidade”... E no fim o vocativo “meu Deus” reflete a indignação que todos nós deveríamos ter ao ver cenas como essa descrita nesse singelo poema de Manuel Bandeira. Titãs também já fez essa comparação: “Bebida é água/Comida é pasto”. Graciliano, em Vidas Secas...
    Vc lembra um texto de Legião Urbana com ironia a essa falta de indignação. No fim ele conclama: “Chega de maldade e ilusão”. Bjos.

    Beijos a todos e todas e espero q tenham gostado do poema de Manuel Bandeira.

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