Seja bem vindo (a)!

Sejam bem-vindos (as)! Vamos criar interrogações, incentivar a leitura, instigar o pensar, espalhar sementes...

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Vidas Secas


“Mas ninguém tem a licença de fazer medo nos outros, ninguém tenha. O maior direito que é meu - o que quero e sobrequero -  : é que ninguém tem o direito de fazer medo em mim!” (Guimarães Rosa – Grande Sertão: veredas)

Olá!
Estou aqui de novo, com o mesmo carinho de sempre, para o nosso encontro semanal no Mire e Veja Travessia. E hoje recomendarei uma obra clássica da literatura brasileira: Vidas Secas de Graciliano Ramos.  A obra aborda o sertanejo nordestino humilhado pelas secas e pelos homens, onde as condições subumanas nivelam animais e pessoas. Temos personagens que giram em círculo, procurando subsistência e que terminam emigrando para o Sul, como milhões de Nordestinos. Todas as personagens são indefesas e estão sujeitas à agressividade dos outros, do patrão ou do poder público.
Aproveito agora que Vidas Secas é o tema das nossas aulas, onde introduzimos o assunto com a Música “Último Pau de Arara”, estamos assistindo ao filme (foto) adaptação da obra e vamos abordar a segunda fase do Modernismo brasileiro e as diversas variedades linguísticas, para deixar um recado: É um momento apropriado para ler o livro que é explorado em vários vestibulares do país, na FUVEST e também no Enem, e ainda nos proporciona um conhecimento sobre o tema, ampliando a nossa visão cultural, social e política. É uma ótima indicação de leitura não só para estudantes, mas para todas as pessoas que ainda não tiveram a oportunidade de ler o livro.
Graciliano Ramos, assim como vários escritores da “década de 30” e de outros tempos, foi atuante na sociedade de sua época e fez da  literatura uma espécie de denúncia social. Para ele “é preciso conhecer a realidade para transformá-la”. E para conhecer ainda mais esta temática, nada melhor do que um texto de um grande poeta lá da região do Cariri (Ceará): Patativa do Assaré. O poema foi musicado por Luiz Gonzaga. Como cidadã, educadora e cristã, considero ser nosso papel conhecer e continuar transformando a nossa sociedade. Vamos ao poema:

A TRISTE PARTIDA

Setembro passou, outubro e novembro
Já tamo em dezembro,
Meu Deus, o que é de nós?
Assim fala o pobre do seco Nordeste,
Com medo da peste,
Da fome feroz.
*
A treze do mês, ele fez a experiênça,
Perdeu sua crença
Nas pedras de sal,
Mas noutra esperança
Com gosto se agarra,
Pensando na barra do alegre Natal.
*
Rompeu-se o Natal, porém barra não veio,
O sol, bem vermeio,
Nasceu muito além.
Na copa da mata, buzina a cigarra,
Ninguém vê a barra,
Pois barra não tem.
*
Sem chuva na terra descamba janeiro,
Depois fevereiro,
E o mesmo verão
Entonce o nortista pensando consigo,
Diz: “isso é castigo!
Não chove mais não!”
*
Apela pra março, que é o mês preferido
Do Santo querido,
Sinhô São José.
Mas nada de chuva! Tá tudo sem jeito,
Lhe foge do peito
O resto da fé.
*
Agora pensando ele segue outra tria,
Chamando a famia
Começa a dizer:
“Eu vendo meu burro, meu jegue e o cavalo,
Nois vamo a São Paulo
Viver ou morrer.
*
Nois vamo a São Paulo, que a coisa tá feia;
Por terras alheia
Nois vamo vagar.
Se o nosso destino não for tão mesquinho,
Aí pro mêrmo cantinho
Nois torna voltar”.
*
E vende seu burro, jumento e o cavalo,
Inté mesmo o galo
Vendêro também,
Pois logo aparece feliz fazendeiro,
Por pouco dinheiro
Lhe compra o que tem.
*
Em um caminhão ele joga a famia
Chegou o triste dia,
Já vai viajar.
A seca terrivi, que tudo devora,
Lhe bota pra fora
Da terra natal.
*
O carro já corre no topo da serra.
Oiando pra terra,
Seu berço, seu lar,
Aquele nortista, partido de pena,
De longe inda acena:
“Adeus, meu lugar!”
*
No dia seguinte, já tudo enfadado,
E o carro embalado,
Veloz a correr,
Tão triste, coitado, falando saudoso,
Com seu filho choroso
Escrama, a dizer:
*
- De pena e saudade, papai, sei que morro!
Meu pobre cachorro,
Quem dá de comer?
Já outro pergunta: - Mãezinha, e meu gato?
Com fome, sem trato,
Mimi vai morrer!
*
E a linda pequena, tremendo de medo:
- Mamãe, meus brinquedo!
Meu pé de fulô!
Meu pé de rosêra, coitado, ele seca!
E a minha boneca
Também lá ficou.
*
E assim vão deixando, com choro e gemido,
O berço querido
O céu lindo e azul.
O pai, pesaroso, nos fio pensando,
E o carro rodando
Na estrada do Sul.
*
Chegaram em São Paulo - sem cobre, quebrado.
E o pobre, acanhado,
Percura um patrão.
Só vê cara estranha, de estranha gente,
Tudo é diferente
Do caro torrão.
*
Trabaia dois ano, três ano e mais ano,
E sempre nos prano
De um dia vortar
Mas nunca ele pode, só vive devendo,
E assim vai sofrendo
É sofrer sem parar.
*
Se alguma notiça das banda do Norte
Tem ele por sorte
O gosto de ouvir,
Lhe bate no peito saudade de móio,
E as água nos óio
Começa a cair.
*
Do mundo afastado, ali vive preso
Sofrendo desprezo
Devendo ao patrão.
O tempo rolando, vai dia e vem dia,
E aquela famia
Não vorta mais não!
*
Distante da terra, tão seca mas boa,
Exposto à garoa,
À lama e ao paú,
Faz pena o nortista, tão forte, tão bravo,
Viver como escravo
No Norte e no Sul.

10 comentários:

  1. Acho que eu perdi o filme né professora? Eu to mal desde quarta feira.. shuahsua... Vo assistir pela net ou alugar o filme.

    Eu choro com esses coisas dhushsuhua Bjos!

    ResponderExcluir
  2. Adorei a sugestão!Apesar de ser a triste realidade!
    Já passei por algumas dessas experiências!
    Isso ainda acontece bastante nos dias atuais ,só quem vive ou já viveu pode saber como é difícil!Mais é interessante compartilhá-las!

    ResponderExcluir
  3. A leitura deste poema me levou a uma viajem rumo ao passado dos meus ascendentes.
    Cada história. Cada gesto. Cada ruga estampada no rosto, conta uma história, de luta, coragem e determinação.
    Estes, nossos patriarcas que sofreram. Choraram a despedida. Enfrentaram sol voraz e chuva atroz. Foram escravos dos desejos alheios. Fizeram tudo para proporcionar à geração de nossos pais, condições de nos mimarem com o que o mundo nos oferece hoje.
    Cederam aos seus desejos para satisfazerem os nossos. Estes, sim, eram e são pais e avós de verdade.
    E o que entristece é saber que a cada dia que passa esta nova geração se distancia cada vez mais de suas raízes. Crianças de vinte e poucos anos, amantes de si mesmo.

    Será que uma terra seca e insalubre vale menos do que uma vida na mesma condição?

    Sinto saudade do tempo que não vivi.
    Preocupo-me com o tempo que há de vir.

    Atenciosamente.

    ResponderExcluir
  4. Estou gostando muito do filme, realmente um retrato da Vida Difícil que alguns passam no Nordeste =)

    ResponderExcluir
  5. Olá galera!!! OI profª!!! Olha eu aqui de novo!!!

    Gostei muito de assistir o filme, mesmo já tendo assistido e lido o livro "Vidas Secas"... Mas, cada vez é uma experiência nova...

    Gostei muito também do poema, que retrata muito bem o que os migrantes nordestinos passaram na época de seca, nas viagens para as cidades grandes...

    Creio usar o filme, arte e outros recursos é uma forma muito legal de estudar a obra e estudar o contexto histórico da época também, a Seca do Nordeste... q foi plano de fundo de muitas obras literárias...

    É legal ver esta interação entre as matérias: língua portuguesa, história, artes...

    Acho q até vou ler a obra de novo... e reencontrar Fabiano, Sinhá Vitória e todos os outros personagens...

    Agora vou indo... Até +!!!

    Fui...

    ResponderExcluir
  6. Xi... agora que eu vi... acho q escrevi d mais!!!

    ResponderExcluir
  7. Iza, já melhorou? Depois conversaremos sobre o filme q vc perdeu. Olhei a letra de súplica cearense; é linda! Realmente a gente se emociona.
    Flávia: q bom q vc gostou da sugestão do livro Vidas Secas. Sei q até assistiu ao filme. Gostou? Espero q leia o livro também. É uma realidade difícil, a do sertão, que, aliás, conhecemos muito bem, não é?
    Mr. Cuca: vc passou por aqui e deixou comentários bonitos e significativos. Desejo, sinceramente, q volte sempre p enriquecer cada vez mais as nossas discussões. Bem vindo ao Mire e Veja Travessia!
    Thiago: amanhã, 01/07, pretendo terminar de passar o vídeo em sua classe. Aguardo-te! Viu como é difícil a vida no Nordeste? Mas, felizmente, vem melhorando muito.
    Carlos! Presença certa e enriquecedora. “Xi... escrevi demais!” Não se preocupe! Adoro os seus comentários! Fique à vontade! Quanto ao livro, é uma raridade um aluno como vc: um leitor proficiente e q já leu inúmeras obras literárias. Parabéns!
    Gente! Os comentários são importantíssimos para o enriquecimento da postagem. Continuem comentando!!! Beijos e Obrigada!!!

    ResponderExcluir
  8. olá Professora preferida e predileta é a melhor Professora da escola e qem naum acha isso vai se ver comigo ^^: nós temos qe assistir o filme todo já qe ñ assistimos tudo então seria melhor colocar o filme deis do começo para todo mundo qe ñ viu o filme inteiro e para qem viu é bom ver novamente para refrescar a mente..até rimo + naum era intenção ^^ o filme é muito interessante pq fala de uma familia muito pobre qe vivê no sertão e vivê varias dificuldades qe uma familia qe naum tem condições passa..e nós temos qe ficar ciente qe muitas pessoas qe vivem no nordeste passam por isso qe essa familia está passando..

    ResponderExcluir
  9. Wellington: gostei da rima “ver novamente/para refrescar a mente”. E gostei mais ainda do seu entendimento e interesse pelo filme. Infelizmente não deu para terminarmos, mas quando vcs voltarem assistiremos desde o começo e faremos um bom debate antes de vcs fazerem a resenha.
    Beijos meu querido aluno e fique com Deus. Boas férias!

    ResponderExcluir

Seja bem-vindo(a)!