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quarta-feira, 9 de junho de 2010

Intertextualidade

“- Pois não é? Só quando se tem rio fundo, ou cava de buraco, é que a gente por riba põe ponte...” (Guimarães Rosa – Grande Sertão: veredas)


Olá!

Quem já leu, viu ou ouviu algo e teve a impressão de já ter lido, visto ou ouvido coisa parecida antes? Às vezes não é só impressão. Os textos “dialogam”, se “encontram”. A este fato, damos o nome de intertextualidade. Graham Allen escreveu: “A intertextualidade surge para nos lembrar da verdade chocante de que o que dissermos e pensarmos sempre já foi dito e pensado”. Adélia Prado, no seu poema A invenção de um modo também constatou: “(...) tudo que invento já foi dito/nos dois livros que li:/as escrituras de Deus,/as escrituras de João./Tudo é Bíblias. Tudo é Grande Sertão.” Referindo-se à Bíblia e ao livro Grande Sertão: veredas de Guimarães Rosa, respectivamente.
Os autores se apropriam, por meio de colagens, paródias, paráfrases, citações, reestruturações, etc., de outros textos construídos em outras épocas ou em outros lugares. E assim constroem outros textos e, muitas vezes, outras significações... E isso vale também para o texto não-verbal como as pinturas, por exemplo, (vide ilustrações acima). A intertextualidade (relação entre dois textos em que um cita o outro) é bastante explorada nos vestibulares, Enem, nas salas de aulas, na vida... Vamos agora a um exemplo clássico: O trecho da carta de São Paulo aos coríntios - capítulo 13 – (escrito por volta do ano 55), o soneto de Camões (publicado em 1595) e a música Monte Castelo de Renato Russo, interpretada  pela banda Legião Urbana (1989). O tema é o amor, um sentimento universal e atemporal.

Texto 1 – Trechos da Carta de São Paulo aos coríntios
“Ainda que eu falasse línguas, as dos homens e dos anjos, se eu não tivesse o amor, seria como sino ruidoso ou como címbalo estridente. Ainda que eu tivesse o dom da profecia, o conhecimento de todos os mistérios e de toda ciência; ainda que eu tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tivesse o amor, eu não seria nada. (...) O amor é paciente, o amor é prestativo; não é invejoso, não se ostenta, não se incha de orgulho. Nada faz de inconveniente, não procura seu próprio interesse, não se irrita, não guarda rancor. (...) Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais passará. As profecias desaparecerão, as línguas cessarão, a ciência também desaparecerá. Pois o nosso conhecimento é limitado; limitada é também a nossa profecia. Mas, quando vier a perfeição, desaparecerá o que é limitado. (...) Agora vemos como em espelho e de maneira confusa; mas depois veremos face a face. Agora o meu conhecimento é limitado, mas depois conhecerei como sou conhecido. Agora, portanto, permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e o amor. A maior delas, porém, é o amor.”

Texto 2 – Soneto de Luís Vaz de Camões

Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar-se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence o vencedor;
é ter, com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Texto 3 – Música Monte Castelo de Legião Urbana


Ainda que eu falasse a língua dos homens
E falasse a língua dos anjos,
Sem amor eu nada seria.
É só o amor, é só o amor.
Que conhece o que é verdade.
O amor é bom, não quer o mal.
Não sente inveja ou se envaidece.
O amor é fogo que arde sem se ver.
É ferida que dói e não se sente.
É um contentamento descontente.
É dor que desatina sem doer.
Ainda que eu falasse a língua dos homens.
E falasse a língua dos anjos,
Sem amor eu nada seria.
É um querer mais que bem-querer.
É solitário andar por entre a gente.
É um não contentar-se de contente.
É cuidar que se ganha em se perder.
É um estar-se preso por vontade.
É servir a quem vence, o vencedor;
É um ter com quem nos mata a lealdade.
Tão contrário a si é o mesmo amor.
Estou acordado e todos dormem
Todos dormem, todos dormem.
Agora vejo em parte.
Mas então veremos face a face.
É só o amor, é só o amor.
Que conhece o que é verdade.
Ainda que eu falasse...

5 comentários:

  1. Olá Profª, E aí galera...

    Gostei muito desta postagem... as imagens falam mais q mil palavras... E depois vc ainda vem nos mostrar os textos, q exemplicam muito bem o tema...

    A música do Legião "intertextualiza" (faz uma conversa entre textos) usando o 1º e o 2º texto... A união dos textos forma um novo... inovador... mesmo usando termos dos dois textos...

    A intertextualidade defenfe q tudo já foi criado, mas não usado desta forma... Basta a nós com base no q já existe criarmos o novo...

    Este tema é muito importante para nós vestibulando, pois a maioria das provas usa a intertualidade em suas questões para q façamos uma reflexão maior...

    Obrigado por tudo...

    "Acho q escrevi um pouco muito"... rsrsrs...

    Bjs!!!

    Fui...

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  2. Interessante ver que um trecho da bíblia inspirou escritores e compositores muitos e muitos anos depois. E o tema "amor" é bem apropriado para a data comemorada ontem que foi o dia dos namorados.

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  3. Vi, gostei e aprovei... Por várias vezes vejo essas intertextualizações e isso que é o bacana da língua escrita que é sempre ativa, onde nada fica velho demais para ser usado.

    gostei do post principalmente da Mônica Lisa, hihihihihi, show!!!!

    bjoks Lira!!!!!

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  4. Muito interessante, essa música, Monte Castelo é linda! :D

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  5. Vale lembrar que o poema de Camões aborda as contradições do amor. Começa com a palavra "Amor" e termina com ela de forma interrogativa. Ou seja: o poeta tenta definir o q é o amor e não o consegue. Fica apenas o registro de seu caráter ambíguo e o poeta termina por onde começou...
    Bjos. amores...

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