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quarta-feira, 7 de julho de 2010

Pra não dizer que não falei das flores

"Vós pouco dais quando dais de vossas posses. É quando dais de vós próprios que realmente dais" (Khalil Gibran - O Profeta)

Hoje falo um pouco de Geraldo Vandré (foto) compositor que fez bonitas canções, participou de festivais de músicas, e da UNE (União Nacional dos Estudantes), quando cursou  direito no Rio de Janeiro. Na época da ditadura, depois de passar dias escondido na fazenda da viúva de Guimarães Rosa, o compositor partiu para o Chile e de lá para a França. Voltou ao Brasil em 1973 onde vive em São Paulo. De lá para cá, Geraldo Vandré não mais apareceu em público, o que faz com que as pessoas criem diversas versões sobre esse “sumiço”. Uma delas é que Geraldo teria enlouquecido em consequência das torturas sofridas.
O fato é que sua história de vida e suas bonitas canções que embalaram os sonhos da juventude de sua época quando lutava pela democracia, jamais deverão ser esquecidas por nós. Temos uma democracia que ainda precisa ser aperfeiçoada, mas que já se encontra bastante consolidada em nosso país e que a geração de hoje pode desfrutar graças às gerações passadas, inclusive a de Geraldo Vandré. A música abaixo que denuncia o período da ditadura militar, foi cantada em praça pública na campanha pelas “diretas já” e ainda hoje é cantada em movimentos diversos e lutas em geral, como passeatas de professores, por exemplo. Enquanto suas canções foram censuradas pela ditadura militar, em 2006 o governo federal fez uso da música abaixo num comercial para divulgar o ENEM e o PROUNI. De suas inúmeras canções gosto especialmente de Disparada e desta que apresento agora. Com estrofes de quatro versos, (longos, com 12 sílabas poéticas) a canção tem a melodia de hino. Sei que a maioria de vocês já a conhece. Mas quanto aos meus queridos alunos e alunas... Nasceram em 1992,1993... Será se conhecem? Vejam a letra. Espero que gostem.

PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DAS FLORES

Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais, braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas, campos, construções
Caminhando e cantando e seguindo a canção.

Pelos campos há fome em grandes plantações
Pelas ruas marchando indecisos cordões
Ainda fazem da flor seu mais forte refrão
E acreditam nas flores vencendo o canhão.

Refrão:
Vem vamos embora que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora, não espera acontecer
Vem, vamos embora que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora não espera acontecer.

Há soldados armados, amados ou não
Quase todos perdidos de armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam antigas lições
De viver pela pátria e viver sem razão.

Nas escolas, nas ruas, campos, construções
Somos todos soldados, armados ou não
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Somos todos iguais, braços dados ou não.

Os amores na mente, as flores no chão
A certeza na frente, a história na mão
Caminhando e cantando e seguindo a canção
Aprendendo e ensinando uma nova lição.

6 comentários:

  1. Olá pessoal!!! Olá Profª...
    Gostei muito da postagem... já conhecia a música, mas não sabia quem era o compositor... Agora com essas informações posso entender melhor a música, o contexto que ela foi escrita e também gostei muito de conhecer um pouco da história do Geraldo Vandré...
    Acho muito legal estudar história através de músicas, livros e materiais que fizeram parte do contexto da época... pra mim é uma forma interessante e dinâmica de entender alguns conceitos da história.
    Que Geraldo Vandré esteja onde estiver possa continuar a levar com sua música as pessoas a lutarem pelos seus ideias e objetivos de melhoria da realidade. Profª, obrigado pelas informações e que você continue transmitindo um pouco de tudo q pode nos ensinar.
    Até +!!! Bjs!!!
    Fui...

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  2. Carlos: q bom q a postagem acrescentou informações p vc. Realmente é interessante estudar História, Língua Portuguesa, Literatura, Geografia, etc. a partir de uma música. A “poesia da canção” torna o ato de estudar mais dinâmico e sempre facilita na contextualização do assunto. Ah! Cantávamos muito esta canção nas assembléias da P.J. na minha diocese...Saudades! Tb já trabalhamos no Godinho o Projeto “Que país é esse?” e estudamos esta música do ponto de vista literário... Foi muito legal!
    Q bom q a democracia, enfim, foi conquistada!
    Bjos, meu querido aluno.

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  3. Aprendi a dizer não/Ver a morte sem chorar/E a morte, o destino, tudo/A morte e o destino, tudo/Estava fora do lugar/Eu vivo prá consertar... (Disparada, Geraldo Vandré e Theo de Barros)
    Sim, ele viveu para consertar. E junto com todos os que disseram NÃO e não tiveram medo da morte, conseguiu consertar.
    Quantas flores não foram usadas nesta luta. Quantas delas não foram jogadas no chão em memória daqueles que morreram lutando. Morreram, mas com a certeza de que a história é feita do presente, do hoje, e o que eles faziam a cada dia ficou para a história e mudou a história e o futuro. E este futuro somos nós.

    O que é mais lamentável é saber que há muitas pessoas que não conhecem estes grandes homens ou se quer ouviram falar. Temos democracia, mas perdemos o motivo pelo qual tanto a desejávamos.
    Hoje a luta é outra. Lutamos para ter o que eles tinham no passado: A capacidade de dizer NÃO, de olhar para o futuro, ver algo melhor e lutar para alcançar.

    Que bom que a senhora, professora, nos fez lembrar-se desta música que é além de uma linda canção, o hino da democracia brasileira, um Grito de Guerra, e lembramos-nos deste ilustre homem que é Geraldo Vandré.
    Sinto, pela democracia no Brasil, pelos muitos que não o conhecem.

    [...] Minha dor é perceber/Que apesar de termos/feito tudo o que fizemos/Ainda somos os mesmos/E vivemos/Como nossos pais. (Como nossos pais, Elis Regina)

    Atenciosamente.

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  4. Mr. Cuca: Quão belo o seu comentário! Esta é a 3ª vez q leio...

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  5. Vivi um pouco esta época. Estive em Brotas, na festa do Divino, em 1971 e já ouvia rumores da presença de "terroristas" na região. Me lembro de haver comentado com meu pai sobre a situação e o prevenido das possíveis ocorrências que poderiam acontecer.Depois das festa de agosto, em minha comunidade, já com maioridade civil, retornei para o interior de São Paulo. Quando lá estava recebi uma revista "Manchete" com as notícias sobre o ocorrido em Pintada e Brotas. Em 1976, quando fazia o curso do CFR(Centro de Formação e Reflexão) do MEPES(Movimento de Educação Promocional do Espírito Santo), tivemos aula de religiosidade popular com Frei Betto e ficamos sabendo mais um pouco da situação, pois ele mesmo tinha sido uma das vítimas da repressão, ficando preso por cerca de três anos. Líamos, nesta época, os chamados jornais alternativos, tais como:Opinião,Movimento e outros, Assistíamos filmes, nos cinemas de Vitória, sobre situações adversas,tais como: Corações e Mentes, Sobreviventes dos Andes, etc e discutíamos sobre a situação.Nosso professor viria a escrever vários livros, entre eles 'Cartas na Prisão e Batismo de Sangue". Este último viria a se tornar filme.Contou-nos sobre a vida e morte de seu colega Frei Tito, etc. Na época se cantava muito esta música e andávamos ainda com um certo medo, mas estávamos por dentro do "caldeirão cultural" que se fervia nos nossos entornos. Assistíamos Chica da Silva e acompanhávamos" Um negócio da China feito por italianos", que era a inauguração da Fiat, em Betim, MG.O Tempo passou, e com ele a democracia voltou, meio capenga ainda, mas voltou. Estive em 1983, em agosto, em São Bernardo do Campo, na fundação da CUT- Central Única dos Trabalhadores e, estamos aqui, como educadores dando prosseguimento a esta nossa missão, que é colaborar na construção de um mundo mais fraterno e solidário. Um abração!!!

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    1. Que história! Que comentário espetacular, meu amigo Nilson Correia dos Santos! Obrigada por deixar esse registro aqui. Parabéns pelo seu belíssimo trabalho no meio educacional. Abração! Volte sempre...

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