Discutem-se constantemente sobre os diversos preconceitos existentes na sociedade, mas pouco ou nada se fala sobre o preconceito linguístico, que tanto quanto os demais fazem vítimas constantemente. Afinal, todo preconceito leva à discriminação e pode atingir proporções dramáticas.
Muitas pessoas desqualificam e até desconsideram as expressões regionalistas, a linguagem coloquial e até os sotaques diferentes. E quando se trata de linguagem, trata-se de pessoas, da questão da cidadania e dos direitos humanos, da liberdade de comunicação e expressão. Afinal, “só existe língua se houver seres humanos que a falem”. Millôr Fernandes diz: “Nenhuma língua morreu por falta de gramáticos. Algumas estagnaram por ausência de escritores. Nenhuma sobreviveu sem povo”.
No âmbito escolar, a publicação de documentos oficiais como os PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais), por exemplo, vieram de encontro à constatação desse e de outros fatores, trazendo várias mudanças na área de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias. O ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) criado em 1998 vem dando uma contribuição significativa nesse sentido, mostrando e valorizando a diversidade linguística num país grande e diverso como o Brasil.
Diante disso, creio que todos têm um papel importante. E os professores de Língua Portuguesa, mais ainda: precisamos assumir uma nova postura, um novo olhar frente ao ensino da língua materna, derrubar mitos, mudar paradigmas, sair do tradicional, adotar novas terminologias e ler muito.
Os PCNs reconhecem que um dos papeis da disciplina é ensinar e/ou aperfeiçoar a linguagem padrão (ou culta), mas conhecendo, considerando e respeitando as outras variedades linguísticas, priorizando a leitura e a produção de textos para que o aluno desenvolva o pensar, faça uso legítimo da comunicação, dos diversos gêneros textuais, com eficácia e liberdade, nos vários contextos e práticas sociais. E não mais priorizando regras gramaticais.
Muitos linguistas afirmam que, ao confundir língua com gramática, muitos alunos, ano após ano, mostram-se desanimados, sem gostar da matéria, dizendo não saber português. Inclusive alunos e alunas com excelente capacidade e habilidade de comunicação oral e escrita. Isso é fato. Sabemos que o domínio da linguagem padrão, ao final do Ensino Médio, precisa melhorar. Temos muito caminho a percorrer. Por outro lado, aumentar a auto-estima dos alunos, das pessoas em geral, mostrando que nós somos senhores da nossa língua materna, também é fundamental.
Como o assunto é longo, polêmico, inesgotável, falarei mais noutra oportunidade. Deixo aqui a recomendação da leitura de um livro que vem tornando-se leitura “obrigatória” para estudantes de Letras e professores de Língua Portuguesa, com mais de 180.000 exemplares vendidos: PRECONCEITO LINGUÍSTICO o que é, como se faz - Marcos Bagno - Edições Loyola. A linguagem é fácil, convidativa, e qualquer pessoa interessada no assunto pode e deve ler.
Uma curiosidade: Na capa do livro, tem a foto do sogro, sogra e cunhado de Marcos Bagno*. E na contracapa da 50ª edição, as mesmas pessoas, trinta anos depois da primeira foto. E ele justifica: “Como este é um livro que trata da discriminação e exclusão, decidi homenagear meus sogros, que são, como costumo dizer, um “prato cheio” para alguns dos preconceitos mais vigorosos da nossa sociedade: negros, nordestinos, pobres, analfabetos.” E mais na frente continua: (...)“ É com este amor que me defendo das acusações que às vezes recebo de ser autor de um livro “demagógico”. Não é demagogia: é opção consciente, política, declaradamente parcial.”
Uma curiosidade: Na capa do livro, tem a foto do sogro, sogra e cunhado de Marcos Bagno*. E na contracapa da 50ª edição, as mesmas pessoas, trinta anos depois da primeira foto. E ele justifica: “Como este é um livro que trata da discriminação e exclusão, decidi homenagear meus sogros, que são, como costumo dizer, um “prato cheio” para alguns dos preconceitos mais vigorosos da nossa sociedade: negros, nordestinos, pobres, analfabetos.” E mais na frente continua: (...)“ É com este amor que me defendo das acusações que às vezes recebo de ser autor de um livro “demagógico”. Não é demagogia: é opção consciente, política, declaradamente parcial.”
*Marcos Bagno, professor da Universidade de Brasília, é doutor em Língua Portuguesa pela Universidade de São Paulo, poeta, tradutor e contista premiado. Tem diversos livros dedicados ao público infantil e juvenil, alguns dos quais considerados “Altamente Recomendáveis” pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil. Trabalhou no MEC, na assessoria da equipe de análise de livros didáticos de Língua Portuguesa e Literatura.
P S: Não esqueçam! Não Percam! 21ª Bienal Internacional do Livro.
12 a 22 de agosto - Pavilhão de Exposições Anhembi - São Paulo.
A nossa escola, mais do nunca, marcará presença neste ano, com todo amor, alegria, orgulho, carinho e emoção.
Depois falarei sobre isso aqui no Mire e Veja Travessia. Beijos a todos e todas!
"Literatura é também coisa do povo, com suas lendas, provérbios, canções - e a língua, o arado com que ele lavra suas sentenças cotidianas, suas frases humildes." (Celso Pedro Luft - Língua e liberdade, página 28)
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirOlá galera,
ResponderExcluirOlá Profª Eliran,
Gostei muito da postagem de hoje, me lembrou das discussões sobre este tema q tivemos no início do ano... Creio q nossa sociedade, já tão cheia de preconceitos e discriminação, não pode tolerar mais o preconceito linguístico...
Em um país onde a diversidade é tão bonita, não podemos deixar q a gramática "impere" sobre a língua... "Nós somos os senhores da nossa língua"... com nossa simplicidade temos q "tomar as rédeas" de nossa língua... e não vamos deixar ninguém nos discriminar ou mesmo não podemos nos importarmos com nenhum comentário d q o "Brasileiro não sabe falar o português"... Nós fazemos a língua... as regras são plano de fundo... A língua é feita por quem a fala...
Agora eu vou indo...
Bjs Profª...
Fui...
Carlos: eu luto e sonho com uma sociedade sem preconceitos, onde todos se sentirão integralmente respeitados, independente de cor, raça, religião, opção sexual, linguagem, etc. Penso que ninguém tem o direito de discriminar ninguém, mas sim de respeitar. Imagine quantas pessoas foram “podadas” no seu sagrado direito de expressão... Desejo que esta postagem nos faça entender e refletir um pouco sobre isso. E também lutar para que todos tenham acesso ao conhecimento da língua padrão para que possam usar quando necessário.
ResponderExcluirP.S: Carlos: e o nosso dia hoje? Histórico! Na próxima postagem espero compartilhar a alegria deste dia com todos e todas aqui no Mire e Veja Travessia. Beijos, “além do luar”. Profa Eliran.
ResponderExcluir