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quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

Poemas de Ano Novo

"Estou preso à vida e olho meus companheiros / Estão taciturnos, mas nutrem grandes esperanças / Entre eles, considero a enorme realidade / O presente é tão grande, não nos afastemos / Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas" (Carlos Drummond de Andrade)
Olá, todos e todas!
Acho maravilhoso fazer reflexões por meio de poemas. Refletir "respirando" poesia é tudo de bom em qualquer dia ou época do ano. Mas no natal, final/início de ano, sem dúvidas, ficamos mais sensíveis às reflexões sobre a vida, planos, projetos, sentimentos espirituais, sociais, pessoais e tudo mais. Vou deixar essa postagem aqui tipo "uma pasta". Sempre que lembrar de algum poema bacana sobre esse tema, posto aqui para vocês! Beijo! Saudades...
Carlos Drummond de Andrade

Cortar o tempo - Carlos Drummond de Andrade

Quem teve e ideia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
Foi um individuo genial.
Industrializou a esperança,
fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar
e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação
e tudo começa outra vez, com outro número
e outra vontade de acreditar
que daqui para diante tudo vai ser diferente.
Para você, desejo o sonho realizado,
o amor esperado,
a esperança renovada.
Para você, desejo todas as cores desta vida,
todas as alegrias que puder sorrir,
todas as músicas que puder emocionar.
Para você, neste novo ano,
desejo que os amigos sejam mais cúmplices,
que sua família seja mais unida,
que sua vida seja mais bem vivida.
Gostaria de lhe desejar tantas coisas...
Mas nada seria suficiente...
Então desejo apenas que você tenha muitos desejos,
desejos grandes.
E que eles possam mover você a cada minuto
ao rumo da sua felicidade.
*****

Ferreira Gullar

Ano novo - Ferreira Gullar


Meia noite. Fim

de um ano, início

de outro. Olho o céu:

nenhum indício.


Olho o céu:

o abismo vence o

olhar. O mesmo

espantoso silêncio

da Via-Láctea feito

um ectoplasma

sobre a minha cabeça:

nada ali indica

que um ano novo começa.


E não começa

nem no céu nem no chão

do planeta:

começa no coração.


Começa como a esperança

de vida melhor

que entre os astros

não se escuta

nem se vê

nem pode haver:

que isso é coisa de homem

esse bicho

estelar

que sonha

(e luta)

  *****

Fernando Pessoa

Poema de Ano-Novo - Fernando Pessoa

 
Ficção de que começa alguma coisa!
Nada começa: tudo continua.
Na fluida e incerta essência misteriosa
Da vida, flui em sombra a água nua.
Curvas do rio escondem só o movimento.
O mesmo rio flui onde se vê.
Começar só começa em pensamento.

                                          *****

  

Affonso Romano de Sant'Anna








Vai, ano velho - Affonso Romano Sant'Anna


Vem, Ano Novo, vem veloz,
vem em quadrigas, aladas, antigas
ou jatos de luz moderna,
vem, paira, desce, habita em nós,
vem com cavalhadas, folias, reisados,
fitas multicores, rebecas,
vem com uva e mel e desperta
em nosso corpo a alegria,
escancara a alma, a poesia,
e, por um instante, estanca
o verso real, perverso, 
e sacia em nós a fome 
- de utopia.

Vem na areia da ampulheta com a
semente que contivesse outra semente 
que contivesse outra semente ou pérola
na casca da ostra
como se outra semente pudesse
nascer do corpo e mente
ou do umbigo da gente como o ovo
o Sol a gema do Ano Novo que rompesse
a placenta da noite em viva flor luminescente.

Adeus, tristeza:
a vida é uma caixa chinesa
de onde brota a manhã.
Agora é recomeçar.
A utopia é urgente.
Entre flores de urânio
é permitido sonhar.

                                                        *****

2 comentários:

  1. Oi, Lira querida! Que lindos poemas. Amei saber da sua postagem e também de "saborear" os poemas aqui. Eis um lugar de muito afeto e aconchego que é esse blog! Quanta história temos por aqui... Espero que o Google, com suas peripécias, não nos atrapalhe. Qualquer coisa, manda um SOS.

    Dos poemas, eu sou suspeito para dizer, mas amo esse do Drummond. Todos me tocam de forma particular, porém o do meu chará me toca de maneira mais afetuosa! É tudo o que também desejo para este ano novo! Que tornemos ele novo, como diriam Sartre, Simone de Beauvoir e outros amigos existencialistas... Que o Ano nos implique em Consciência crítica e política, como tão bem aprendi com você, professora Lira e com Guareschi! Sigamos de "mãos dadas" neste blog! Sigamos nas veredas que a vida e as nossas escolhas nos colocam.

    Grande beijo!

    E para não perder o costume: Fui...

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    Respostas
    1. Oi, Carlos querido! Sabia que você iria gostar dos poemas. Sabia que o preferido seria o de Drummond. Te conheço... Você é/faz parte desse lugar “de muito afeto e aconchego”, o Mire e Veja. Sem você nem sei se ele existiria, pois foi você o percursor, incentivador, e quem atendia meus “SOS” quando não sabia sequer editar uma postagem.
      Sim, precisamos de muita Consciência crítica e política (e também social) (e religiosa, etc.) para podermos contribuir na transformação social, por uma sociedade mais justa e igualitária para todos e todas. Ainda mais agora depois dessa onda de alienação, fundamentalismo religioso, negacionismo e tantos outros retrocessos.
      Também desejo o mesmo para você nesse ano novo! Ano de mais um passo importante na sua caminhada acadêmica e profissional. Depois de duas graduações, um mestrado, agora vem o doutorado! Que maravilha! E sempre abordando/pesquisando temas relevantes e necessários. Orgulho de você. Parabéns pelo cidadão e profissional que você é. E que Deus o abençoe infinitamente, meu querido e inesquecível aluno.
      PS. Se teus colegas vissem os comentários, já diriam: Ah, Carlos, ah, professora, vocês escrevem demais rsrs... Saudades de todos e de todas...
      Mil beijos para você!

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