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sábado, 6 de abril de 2013

Os ipês-amarelos

"Existe no silêncio, uma tão profunda sabedoria que às vezes ele se transforma na mais perfeita resposta." (Fernando Pessoa)


Rubem Alves
 
       A revista bons fluidos desse mês traz uma entrevista com Rubem Alves  com o título: Encantador de palavras; e, ao final, trechos da primeira coluna dele publicada na mesma revista, em novembro de 2004. Achei muito bacana – como sempre – e publico aqui.
      Rubem Alves, para mim, é encantador de palavras, de alma, de educação, de vida e muito mais. Aguardando ansiosamente o seu mais recente livro: Lições do velho Professor.


                     Os ipês-amarelos
O que você ama define quem você é

Ipês
Acho curriculum vitae uma coisa boba. Sei que os burocratas sem eles se sentiriam perdidos. Por amor aos burocratas e curiosos fiz uma concessão: coloquei o meu na minha homepage. Mas lhe dei um nome novo. Curriculum, em latim, quer dizer pista de corrida. Um curriculum vitae é, assim, uma enumeração dos lugares por onde se passou, na correria da vida. As coisas que eles registram não existem mais. O que é passado está morto. Assim, na minha homepage, ao invés de curriculum vitae eu escrevi curriculum mortis, porque eu não sou o meu passado. Eu sou o meu agora. De um pianista que vai iniciar o seu concerto não se espera que ele diga os nomes dos professores com quem estudou... Dele só se espera uma coisa: que se assente ao piano e toque...

...Ao final de uma entrevista o entrevistador me fez a última pergunta: “Como é que o senhor se definiria?” Fui pego de surpresa. A resposta teria de ser curta. Lembrei-me da frase que o poeta Robert Frost escolheu para seu epitáfio: “Ele teve um caso de amor com a vida...” Encontrei minha definição em mim mesmo. Respondi: “Eu tenho um caso de amor com a vida...”

Uma professora me contou esta coisa deliciosa. Um inspetor visitava a escola. Numa sala ele viu, colados nas paredes, trabalhos dos alunos acerca de alguns dos meus livros infantis. Como que num desafio, ele perguntou à criançada: “E quem é Rubem Alves?” Um menininho respondeu: “O Rubem Alves é um homem que gosta de ipês-amarelos...” A resposta do menininho e deu grande felicidade. Ele sabia das coisas. As pessoas são o que elas amam. Descartes afirmou: “Penso, logo existo”. Eu inverto Descartes e digo: “Amo, logo existo”. Mas o menininho não sabia que sou um homem de muitos amores... Amo os ipês, mas amo também caminhar sozinho. Muitas pessoas levam seus cães a passear. Eu levo meus olhos a passear. E como eles gostam! Eles têm fome de ver. Encantam-se com tudo...

...Escrever é minha grande alegria!...

...Vejo e quero que os outros vejam comigo. Por isso escrevo. Faço fotografias com palavras. Diferentes dos filmes que exigem tempo para serem vistos, as fotografias são instantâneas. Minhas crônicas são fotografias. Escrevo para fazer ver. Uma das minhas alegrias são os e-mails que recebo de pessoas que me confessam haver aprendido o gozo da leitura lendo meus textos...

...Não tenho medo da morte. O que sinto é tristeza. O mundo é muito bonito! Gostaria de ficar por aqui... Escrever é meu jeito de ficar por aqui. Cada texto é uma semente. Depois que eu for, elas ficarão. Quem sabe se transformarão em árvores! Torço para que sejam ipês-amarelos...

4 comentários:

  1. Olá Lira, olá pessoal,

    Fiquei encantado por essa postagem, pelos escritos de Rubem Alves e pela poética do blog e das palavras. Rubem foi devidamente apresentado a mim por Lira. "A águia e a Galinha", nunca me esquecerei... Nem mesmo em meus maiores voos, nunca me esquecerei...

    Alves encanta-me sempre, revela e busca o Ser das coisas, das situações, dos fenômenos em tudo o que escreve e fala. Ele é encantador! "Amo, logo existo", só ele mesmo parafraseando com tal poética umas das maiores metáforas da Filosofia Ocidental. Acredito que Descartes gostaria muito dessa tese dele. "Amo, logo existo", logo sou enquanto ser Amante! amante da vida, das belezas naturais, dos fenômenos, da infinitude do Ser...
    Agora vou indo... mas, eu sempre volto... a gente nunca sai de "casa", porque a "casa" está dentro de nós! Minha casa é a poesia e aqui encontro porto seguro.
    Bjs Lira... continue a semear e transbordar a poesia de sua vida =)

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  2. Oi, meu lindo poeta. Vi o seu comentário e me emocionei. Essa parte “Rubem foi devidamente apresentado a mim por Lira. "A águia e a Galinha", nunca me esquecerei... Nem mesmo em meus maiores voos, nunca me esquecerei...” e todo o comentário me alegra, “montão”.
    Ter sido sua profa. foi uma bênção de Deus. Hoje fico aqui vendo seus voos, as turbulências inevitáveis que eles causam e sempre confiante que “essa águia” contribuirá muito na construção de uma sociedade mais feliz.
    “Presença distante”; juntos sempre!!! Mil bjos e saudades sem fim...


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  3. Nossa... que página emocionante. Rubem e suas palavras. E pelo que pude observar um "ex" sempre aluno e sua professora que apresentou o Rubem ao poeta-"voante". Isso é amor. Isso é viver!! Quanta poesia junto. As estórias do Rubem sempre acontecem dentro de mim. Abraços!

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    1. Trata-se exatamente disso que você falou, Lu Novais. Obrigada pela visita aqui no blog. Abraços para você também!

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