“Palavra puxa palavra, uma ideia traz outra, e assim se faz um livro, um governo, ou uma revolução” (Machado de Assis)
Olá!
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Ilustração: Camila De Burghgrave Bastos |
Caríssimo amigo Thierry, companheiros e companheiras de luta
e de caminhada, familiares, autoridades aqui presentes e demais pessoas:
Adélia Prado, querida mestra da poesia brasileira, diz: “A
coisa mais fina do mundo é o sentimento”. E eu começo falando de sentimento!
Sentimento por não poder estar presente nesse momento aí com vocês prestigiando
o lançamento do livro do meu amigo Thierry De Burghgrave. Alguns compromissos
por aqui impossibilitaram uma viagem minha à Bahia nessa data. Mas há o sentimento
também de presença, de saber que, mesmo distante, eu posso estar presente com
as minhas energias, meu entusiasmo e também por meio dessas poucas e singelas
palavras.
Quero, de início, parabenizar o meu amigo Thierry pelo livro
e pelos 50 anos de Brasil, completados no ano passado. Sua trajetória nesses 50
anos foi marcada por grandiosos serviços prestados ao povo brasileiro e ao povo
do nosso Município de Brotas de Macaúbas onde fixou sua morada e construiu sua
família brasileira. O seu trabalho e a sua dedicação têm contribuído para o
enriquecimento dos bens culturais da nossa terra, para o fortalecimento de
várias lutas, caminhadas e para muitas conquistas do nosso povo. O lançamento
do seu segundo livro: Vício... Sonho.... Até parece castigo! – Vivências e
notícias de garimpos de quartzo na Bahia, é, sem dúvidas, mais uma contribuição
nesse sentido, dado pelo seu valor histórico, cultural e literário.
Tive o prazer e a honra de escrever o prólogo desse livro. Quero
dizer que foi muito bom o mergulho nos seus textos nessa viagem literária, como
também foi muito enriquecedor os nossos diálogos enquanto lia o livro para
escrever o prólogo. Compromisso, seriedade e competência estão sempre presentes
em tudo o que você faz. E esse seu novo livro está aí para provar isso.
Vivemos em uma sociedade onde, principalmente nas últimas décadas, tentaram sucumbir a nossa luta e a nossa esperança. E até nesse momento estamos vivendo as consequências desse “apagão cultural”. Negligenciamos muito nessa parte e a fatura chegou: fundamentalismo religioso, desrespeito ao Estado Democrático de Direito, individualismo e negação à ciência. Muitas vidas humanas foram ceifadas, florestas foram devastadas, e até os animais não foram poupados. A “Mãe-Terra”, nossa “Casa-Comum” pede socorro. E os depredadores, as elites insaciáveis, o agronegócio, ainda tentam impedir o trabalho dos órgãos que protegem a nossa natureza e tentam criminalizar os movimentos sociais, com a criação da CPI do MST, por exemplo.
É imprescindível que possamos nos fortalecer na luta e no
trabalho de conscientização em todos os cantos desse nosso Brasil. É preciso
que as escolas, sindicatos, igrejas, associações, partidos políticos e demais
movimentos sociais resgatem o seu papel de conscientização, de formação cidadã.
No capítulo 9, páginas 185-186, desse livro que ora é
lançado, Thierry aborda um fato de grande relevância, dentre tantos outros
fatos relevantes abordados nesse livro. O alerta que fez às autoridades,
pesquisadores locais e também sobre o papel das escolas, num dia de comemoração
da emancipação política e administrativa do município de Brotas de Macaúbas sobre
a importância de resgatar a história do nosso povo que: “diante de tantas
adversidades de ordem política, social, ambiental e climática, enfrenta essa
luta sem perder sua dignidade e sua coragem” – diz ele. E enfatiza: “enfocando
particularmente o ponto de vista dos “vencidos”, não dos coronéis e da elite”.
Logo depois ele exemplifica o trabalho do professor José
Calasans sobre a guerra de Canudos. Que bom que ele falou isso em 2017. Que bom
que eu posso citar isso agora em 2023. E que bom que isso está registrado nesse
livro. Sem entender esse papel básico educacional, estaremos sempre fadados a
suscetíveis vulnerabilidades social e política perante a classe dominante,
enfraquecendo, portanto, o nosso papel de cidadãos e cidadãs.
Queremos educação, cultura, saúde, a terra dos povos
indígenas sendo respeitada, respeito às diversidades de gênero, raça, cor,
orientação sexual e religião. Queremos nossas matas preservadas, comida
saudável na mesa, respeito aos trabalhadores do campo e da cidade.
Dito isso, aproveito o ensejo maravilhoso do lançamento de um livro para conclamar aos estudantes, aos jovens e às pessoas aqui presentes que leiam. Leiam esse livro. Leiam outros livros. Debrucem sobre um livro ou, pelos menos, sobre alguns capítulos. O mundo frenético das tecnologias, muitas vezes nos afasta da leitura. Precisamos despertar e/ou resgatar esse hábito que tantos benefícios traz para nós. E eu não me contenho e cito Adélia Prado mais uma vez: “Quem entender a linguagem entende Deus / cujo Filho é Verbo”.
Concluindo, quero mais uma vez dizer: Parabéns, caro amigo Thierry!
Parabéns pelo livro e parabéns pelo seu trabalho! Você fez e continua fazendo
história em Brotas de Macaúbas. Sinta a minha presença, receba o meu abraço
fraterno, extensivo ao pessoal de luta das nossas comunidades e todas as
pessoas que prestigiam esse evento.
Grande abraço!
Eliran Oliveira